terça-feira, 24 de março de 2015

Série: Orar 15 Dias com Maria Celeste

Apresentamos a meditação do quarto dia da espiritualidade Crostarosiana, nesse dia observaremos um pouco sobre o seu Sol Divino. #Acesse, #compartilhe e #divulgue!


Um Domingo De Manhã...




Maria Celeste, um domingo de manhã, na hora da comunhão. Apenas acabara de receber a Santa hóstia, Nosso Senhor se mostrou a ela...Isso durou várias horas... O Senhor lhe diz: "Quero ser seu guia, quero conduzir você; a ninguém procure fora de mim"(L, cap. III).

            Um domingo de manhã... Costumeiramente, Maria Celeste fala de sua comunhão diária sem dizer o dia, o mês ou o ano. Não é a data o importante para ela, mas o mistério eucarístico. Entretanto, esta é a única vez em sua autobiografia que ela diz ser precisamente um domingo. Domingo, dia do Senhor. Ou seja, o dia da eucaristia em sua plenitude. Não nos esqueçamos que lá nas origens a festa da Páscoa era celebrada a cada domingo. Ela só se tornou uma solenidade anual a partir da metade do segundo século. Compreende-se assim porque Maria Celeste está atenta a esse detalhe, pois que o Senhor a ela se apresenta como o guia, aquele que lhe abre passagem, a Páscoa para uma terra de liberdade, em sua morte e ressurreição. Cada eucaristia celebra essa Páscoa. Especialmente a do domingo. ela está convencida disso.
            Quero ser seu guia... precisou Jesus. Ora, nessa época, muitos confessores ou diretores de consciência aceitavam que seus penitentes fizessem o voto de lhes obedecer, e até- este foi o caso de Dom Falcoia com Maria Celeste- chegavam a exigir isso deles. Conscientemente, Maria Celeste se recusou. Esse foi um, aliás, entre os motivos que, em 1733, determinaram sua expulsão do mosteiro de Scala. Ela não tinha senão um verdadeiro guia: o Cristo que lhe falava ao coração desde a infância:

Ela era ainda uma menina por volta de seus cinco ou seis anos, quando o Senhor começou a lhe dar conhecimento passivo de sua natureza divina, mas de maneira tão doce que a menina teve vontade de lhe devotar todo o seu amor e seu serviço (L, cap. I).

            Em sua autobiografia, Maria Celeste recorda como o senhor insiste nessa formação espiritual, quando ela se torna mestra de noviças no Carmelo de Marigliano:

Nessa época, o Senhor... Iluminou minha inteligência para me instruir sobre verdades da fé... Atraindo-me para ele, fazia-me ver como ele  viveu e como é a vida de uma alma santa. em íntima união de amor comigo, Jesus comunicava-me por sua graça um gozo antecipado da vida eterna, fazendo-me entender estas suas palavras no Evangelho: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". E estas: "Ninguém vai ao Pai senão por mim". Ele me mostrava a obra maravilhosa da união divina com a natureza humana, união tornada possível à alma pelo Espírito Santo e pelos frutos das boas obras. Tudo isso nos foi merecido pela vida santíssima que ele viveu na terra, quando aqui habitou (L, cap. XV).

            Maria Celeste  centra sua oração na meditação do Evangelho, principalmente nos textos de João e nas cartas de Paulo. Ela comentará esses textos para suas irmãs, em seus escritos e nos retiros que pregará. Para a época, não faltava audácia nisso.
            Maria Celeste prega o Evangelho, mas sobretudo ela o vive, não obstante as provocações que se abatem sobre ela e sobre o projeto do novo Instituto. Poucos dias antes de ser expulsa do mosteiro de Scala, assim escreve em uma de suas cartas:

Meu espírito está em paz e nada teme, caminhando segundo o Santo Evangelho e sobre as pegadas de meu amantíssimo Jesus (S, p. 38, lettre à son confesseur, 20 avril 1733).

            Aliás, na fundação do novo Instituto, dá ao regulamento para as Monjas um título evocativo e bem original para a época: O Instituto e as Regras do Santíssimo Salvador, contidos nos santos Evangelhos...
            Para ela, de fato, trata-se primeiro de obedecer ao chamado de Jesus Salvador: "Sede meus discípulos"(Mt 11, 29). Eis porque Maria Celeste pede às monjas que meditem o Evangelho da missa do dia. Além disso, exige das superioras que se esmerem em explicá-lo às irmãs menos dotadas, para possibilitar-lhes assim melhor compreender e praticar as Regras e Constituições do Instituto. E mais: escreverá vários livros, quase todos comentários do Evangelho.
            Maria Celeste não ignora os perigos que rondam as pessoas em oração, principalmente a oração proveniente da repetição de fórmulas, mesmo as mais belas. Como dirá mais tarde Charles Péguy: "A enorme enxurrada de Pai-Nosso", ela sabe que andamos muitas vezes titubeantes, porque distraídos. Mas sabe também que há dias, quando vem a tempestade, em que o barco se volta para o alto-mar, ao sopro de Deus. E por isso é preciso ter um guia seguro: o próprio Jesus. Ela o acolhe a cada dia na escuta de sua Palavra e, principalmente, no coração até o coração que acompanha cada uma de suas comunhões.

E nós hoje?

Quem é nosso guia espiritual? Será o Senhor Jesus?
Será que gastamos tempo em escutar sua palavra? Em escutar o Evangelho cada dia? Em Lê-lo não só para estudá-lo, mas para meditá-lo, para dele nos nutrirmos fervorosamente?
Será que aproveitamos nossas comunhões para entrar em diálogo com Jesus e para acolher sua mensagem de amor, que orientará nossa vida ao longo de todo o dia?
Estamos decididos a viver com o Cristo Salvador? Por ele? Nele?
Por fim, a confidência de Maria Celeste, dando-nos conta de que ela tinha "Mais ou menos cinco ou seis anos quando o Senhor começou a lhe dar a conhecer...sua natureza divina", convida-nos a descobrir o valor da oração da criança e a importância de sua educação cristã desde a mais tenra idade. Charles Péguy, poeta e pai de família, dois séculos mais tarde dará testemunho disso e comporá o canto do Deus dos cristãos, que tanto ama as crianças:
"Eu vi grandes santos, diz Deus.
Pois bem, eu vos digo:
Jamais vi nada de tão singular e, por conseqüência, nada conheci de mais belo no mundo do que uma criança que adormece fazendo sua oração...
E misturando o Pai - nosso com a Ave - Maria" (Oevres poétiques, ed. Gallimard, p. 791)




Oremos com Maria Celeste

Ó meu Bem...
Eu te abraço,
aperto-te ternamente contra meu coração.
Olho para ti e te contemplo,
em verdade posso dizê-lo.
Sem te mostrares,
num piscar de olhos, tu te fazes entender.
Tu me feres como uma flecha de fogo
que num instante me atinge e me traspassa.
Tu me ensinas o bem e me revelas a verdade eterna.
Ardente desejos excitas em mim
de, desvelado, ver-te no céu,
e num beijo eterno te beijar...
Corro para ti como para meu refúgio
em todas as minhas necessidades espirituais e temporais,
em minhas dúvidas e minhas dificudaldes,
porque não somente te fizeste o Pai, o
Esposo
e o Senhor de meu coração,
mas também o Guia, o Condutor, o Mestre,
a quem queres que eu recorra
em todas as minhas necessidades,
para encontrar consolação, remédio e socorro.
Tu és meu tudo (Es, Dixième jour).



quarta-feira, 11 de março de 2015

Série: Orar 15 Dias com Maria Celeste

Apresentamos a meditação do terceiro dia da espiritualidade Crostarosiana, nesse dia observaremos um pouco sobre o seu Sol Divino. #Acesse, #compartilhe e #divulgue!




Contemple-Me...


Contemple-me, ame e viva de amor,
Não segundo a carne, mas segundo o
Espírito; não segundo os sentidos,
 mas de maneira divina (E, L’ an 1732)

Contemple-me... É o chamado de Jesus à contemplação. Maria Celeste não hesita em responder “sim”. E Jesus insiste:

Contemple-me com os dois olhos, fixe-os sobre o meu supremo e eterno Bem, sem lhar para as coisas passageiras e terrenas, e menos ainda para os impulsos que vêm de seus instintos inferiores (L, Solilóquio Diálogo).

Constantemente o Senhor lembra Maria Celeste sobre esse olhar de contemplação. Ela está bem consciente disso: “A primeira lição que me dás é a de ter o olhar sem cessar fixado em teu divino Ser”(L, sexto Diálogo). E ela tem sempre presente este apelo do Senhor: “contemple-me sempre com o olhar de sua inteligência, mesmo nas menores coisas” (L, oitavo Diálogo).

Por que é tão frequente esse apelo, senão porque “contemple-me” é um apelo de amor? Não há verdadeiro amor sem contemplação. A mãe que ama seu filho contempla-o, e, nessa contemplação, o filho descobre que é amado. Assim, também nós diante de Deus. É o que Jesus diz repetidas vezes a Maria Celeste:

Aja de tal forma que, por uma aspiração de amor, sua alma tenha sempre o olhar fixado em mim, e que todas as suas ações, espirituais, temporais ou sentimentais, reduzam-se a um só ato de amor e de reta intenção, tendo a mim como único objeto (L, Oitavo Diálogo).

Jesus ainda revela a Maria Celeste que, enquanto ela contempla Deus e é por ele contemplada, essa mútua contemplação tem como única fonte o amor que vem de Deus:
Bem-amada de meu Coração..., observe: meus olhos estão agora fixos em você, para que você me contemple com meu próprio olhar (NN, quatrième jour).

Essa contemplação ilumina e transforma Maria Celeste. Ela descobre o segredo maravilhoso dessa troca de olhares: a humanidade e a divindade de Cristo, Verbo feito carne, Deus feito homem. E depois desse apelo à contemplação, ela ouve do Senhor o apelo a uma vida de amor, com Deus e com o próximo:

Ela vive na força do amor e na chama do Espírito Santo que, como um fogo, se ergue da alma assim inflamada, com violência e ao mesmo tempo com suavidade, transformando em vivo fogo de amor toda alma disposta a recebê-lo... Assim, para a alma nesse estado, tudo é zelo ardente e chama de amor; ela fala sempre do amor, estima o amor, quer o amor, sente o amor, ama o amor, pensa no amor, deseja o amor, vive por amor, no amor compreende e deseja viver por toda a eternidade. Ó amor inefável e divino, centro e vida dos corações! (L, Degrau Décimo).

Esse texto de Maria Celeste é claramente inspirado em São Paulo: “Se eu não tenho a caridade, se me falta o amor, não sou senão um bronze que soa, um tímpano que retine. Seria inútil ser profeta, ter toda a ciência dos mistérios e toda a sabedoria de Deus e toda a fé a ponto de transportar montanhas, pois se me falta o amor, eu nada seria; poderia distribuir toda minha fortuna e me deixar queimar, mas se não tiver caridade, isso de nada me serve...”(1Cori 13, 1-3).

Para Maria Celeste, como para Paulo, Deus é amor, Deus não é senão amor. Amor humilde e incandescente. Ela está convencida disso, e o Senhor a convida a viver desse amor. Isso é mais importante, garante-lhe Jesus, que todos os dons extraordinários com os quais algumas almas podem ter sido favorecidas:

Eu estimo mais em uma alma um grama de amor puro que todas as graças extraordinárias com que possa estar ornada. Aprecio, sem dúvida, esses favores, como riquezas minhas nas almas que os possuem e nas quais eu os depositei, mas exijo que, na qualidade de depositárias, elas  os guardem com extrema fidelidade.
Aquelas, porém, às quais não concedi essas riquezas e graças, mas que me amam de coração, proporcionam-me grande glória. Por sua humildade e menosprezo  de si mesmas, elas me glorificam com grande pureza de amor. Alegra-me imensamente nelas viver escondido.
No céu, as almas serão glorificadas na medida de seu amor e não de seus dons! (L, Primeiro Diálogo).

Esse olhar amoroso pouco a pouco se transforma em oração silenciosa. Oração por ela mesma e por todo o mundo:

Em um único olhar de amor, a alma expõe não só suas próprias mazelas, mas também as misérias do próximo, bem como todas as graças que deseja. Ela está diante de seu Bem-Amado e, por um só olhar de amor, apresenta-lhe todas as suas necessidades. Seus olhos não se alegram apenas pela felicidade de contemplar seu Bem-Amado, mas por ser substancial, amigável e misericordiosamente por ele contemplada (L, Degrau Segundo).

Maria Celeste faz a experiência desse olhar de amor do Verbo encarnado, principalmente na hora da eucaristia:

Na santa comunhão (o Verbo encarnado), revela-se lançando-lhe um olhar de amor a partir da santa hóstia, um olhar da santa Humanidade unida... ao Verbo. Esse olhar seria suficiente para fazer morrer de amor ou de dor, se o Senhor não reconfortasse e fortalecesse a alma que recebe essa graça. Foi esse olhar fixo em São Pedro, depois que ele traiu o Mestre, que bastou para fazê-lo chorar seu pecado pelo resto da vida, com infinita dor, pois feriu de tal forma seu coração que essa ferida de amor jamais cicatrzou, mesmo sabendo ele que seu querido Mestre lhe havia perdoado (L, Degrau Oitavo).

Maria Celeste viveu de olhos abertos. Abertos para Jesus, que a mira com amor; abertos para o mundo, que é visto com amor pelo mesmo Jesus Salvador.

E nós, hoje?

Será que, antes de toda oração, nós gastamos tempo em nos deixar olhar, em silêncio, pelo Senhor? Em acolher, com humildade e com calma, esse olhar pousado sobre nós? E, depois, em responder a esse olhar de amor com outro sincero olhar de amor? Compreendemos que esse olhar de amor é uma oração das mais perfeitas?

Estamos decididos a manifestar esse amor com atos concretos de caridade para com o próximo, ao correr de todo o nosso dia, uma vez que, como disse Jesus, “tudo o que fazeis a um desses pequeninos, que são meus irmãos, é a mim que o fazeis?”(Mt 25, 40).

Como diz São João: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, foi ele que nos amou... E nós, nos reconhecemos e cremos que o amor de Deus está entre nós. Deus é amor”(1 Jo 4, 10-16), compreendemos, por fim, que todo amor vem de Deus? Em outras palavras, compreendemos que Deus é a fonte de todo amor? Do amor que temos por ele, do amor que temos pelos outros, do amor que dele e dos outros nós recebemos?

Oremos com Maria Celeste

Ò Verbo eterno...
Tua voz substancial sem dizer palavras me
Explicou
O ato puro e divino de teu ser no Pai celeste
E do ser do Pai em ti.
Eu vi que és a felicidade e a sabedoria do Pai,
Luz infinita, todo poder,
Riqueza, glória, beleza, misercórdia, verdade,
Justiça, santidade:
Espelho limpidíssimo de todas as perfeições divinas;
Paz, centro, contentamento,
Quietude participante de toda a bondade
E felicidade do Pai...
Tu és a luz e a glória dos anjos,
A beleza e as delicias do céu,

E a força invencível da virtude de Deus (Es, Premier Jour)