quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

SCALA




BERÇO DA ORDEM DO Ss. REDENTOR
O viajante que margeando o golfo de Salerno chega à cidade de Amalfi, fica encantado com a beleza da paisagem.
Amalfi é uma rainha sentada à sombra de verdejantes colinas cobertas de cedros e de laranjeiras.
A seus pés, um mar azul-celeste; acima um céu de safira; aos lados das montanhas abruptas e desnudadas, mais além bosques espessos. Como fundo do quadro, a leste um penhasco quase a prumo, com cerca de 400 metros de altitude. Sobre esta elevação ergue-se Scala, defronte de Ravelo.
Scala e Ravelo vistas de baixo são dois ninhos de águia, irradiantes de luz, visinhos do céu; vistas de perto são simples ninhos de pombas pelo encantador aspecto.
Scala e Ravelo, cidades outrora importantes, hoje decaídas.  Antigamente cidades episcopais, depois pertencentes ao arcebispado de Amalfi. Pois bem, foi em Scala que decidiu Deus colocar o Berço da Instituto do Ss. Redentor; e como?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

NAPOLES


Cidade notável pela sua beleza natural, foi o berço das duas grandes almas escolhidas por Deus para dar à Sua Igreja essa nova ordem.
No dia 27 de setembro de 1696 nascia em Marianella, pequena aldeia de Nápoles, o primogênito de José de Ligório e Ana Cavalieri. Dois dias depois, na festa de São Miguel, recebeu a criança, na pia batismal da matriz de Santa Maria das Virgens, os nomes de Afonso Maria Antônio João Francisco Cosme Damião Miguelangelo Gaspar.
Indo são Francisco Jerônimo, visitar a família Ligório, tomou o pequenino Afonso nos braços e disse em tom alegre à Dona Ana: “Este menino viverá muito, muito; não morrerá antes dos 90 anos; será bispo e fará grandes coisas por Jesus Cristo”. E esta profecia se realizou.
Quem não terá ainda ouvido falar do grande e Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Igreja, Bispo de Santa Ágata, o cantor das glórias de Maria Santíssima, o defensor intrépido da infabilidade papal, o apóstolo e missionário zelosíssimo cujas obras e escritos, traduzidos em todas as línguas, perpetuaram o seu apostolado e inflamam os corações de amor para com Deus, o Coração de Jesus sempre conosco na divina Eucaristia?
Inútil, pois, queremos estender-nos sobre a vida deste tão eminente santo...
  Mas, debaixo deste mesmo belo céu de Nápoles, também uma outra criança nascia a 31 de outubro desse mesmo ano de 1696, a futura Soror Maria Celeste, essa humilde virgem será escolhida pelo Senhor para ser a “terra em que será levantado o grande edifício de Sua Obra”.
Nascera tão fraquinha que recearam perde-la e por isto apressaram-se em batizá-la sem as cerimonias da Igreja.
Mas a pequenina dileta do Senhor, reanimou-se e no dia seguinte, com grande alegria de todos os seus, foi levada a Igreja paroquial de São José; aí recebeu o batismo condicional com os nomes de Júlia Marcela Santa. Era quase a caçula, pois, nascendo após seus irmãos: Francisco, Miguel, Ágata, Rosa, Úrsula, Gertrudes, Úrsula Rosa, Tiago, Jorge e Braz, só teve uma irmãzinha mais nova, Joana. 
Desde a mais tenra infância, (conta mais tarde em sua autobiografia) foi favorecida pelo Senhor com graças extraordinárias.
Com cinco anos apenas já o Senhor se manifestava passivamente à pequenina Júlia, dando-lhe a conhecer sua Divindade; e desde então não teve ela outro desejo senão o de amar e servir o Senhor.
Aos 11 anos fez a primeira Comunhão, e Nosso Senhor nesse momento mostrando-se a ela, disse que lhe dava o Seu Coração e seu Precioso Sangue e que a escolhia por Esposa.
Aos 20 anos foi Júlia, com sua Mãe e sua irmã Úrsula Rosa, visitar uma religiosa no Carmelo de Marigliano e aí ficou com sua irmã.
Seis meses mais tarde, no dia 21 de Novembro, festa da Apresentação de Nossa Senhora, receberam o hábito de Carmelita.
No fim de um ano fizeram a Profissão religiosa.
Quando nomeada Mestra das Noviças, a Venerável pode mais facilmente gozar do recolhimento, recebendo graças extraordinárias.
Assim, certo dia, (era então sacristã) depois da Santa Comunhão, penetrada pelo Olhar Divino, teve uma grande luz interior e o Senhor lhe disse: “Quero fazer-te mãe de muitas almas que desejo salvar por teu intermédio” e mostrou-lhe muitas almas religiosas que ela não conhecia....

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Momento de Espiritualidade


O  projeto espiritual de Maria Celeste é sempre a transformação em Cristo pela ação do Espírito Santo que nos faz retratos animados do Verbo. No ensinamento de Maria Celeste a centralidade da pessoa de Jesus Cristo é considerada sempre como Filho, o Verbo feito Homem.  Mas a recordação constante da divindade serve para ressaltar a importância da humanidade. Em diversos momentos Maria Celeste lembrará que a “humanidade de Cristo é sempre a porta para se estar em Deus”.  Jamais pode a alma se esquecer da sagrada humanidade, por mais sublime que  seja o grau de união que tenha alcançado. “ Onde estão os se atrevem a dizer que a alma deve prescindir desta humanidade, esquece-la e ignora-la, sendo que recebeu todo o bem do Deus feito homem?” (Jardim interior, 6 de abril).
A natureza humana assumida pelo Verbo recebeu a plenitude das perfeições divinas em grau tão eminente que pode comunica-las a todas as almas que se unem a ele pelo amor.  E o verbo se revestiu da natureza humana e a natureza foi revestida das perfeições divinas.  Jesus Cristo é o novo Adão o homem novo criado como verdadeira imagem de Deus não deformada pela culpa e possui a plenitude de todos os dons e virtudes da graça. Assim como Jesus é a imagem do Pai nós somos imagem de Jesus. Deus olha com complacência a alma de Jesus e “a alma de Jesus olha para Deus com a mesma complacência com que é olhada; com esta complacência de amor impetra para as alma os mesmos bens que ele tem e as veste de sua inocência,  de sua justificação, de amor, porque é sua digna esposa,  imaculada e pura, Jesus o comunica às almas a sua própria graça. Participamos de sua veste riquíssima  de graças, de modo que,  sendo Deus e homem, nosso irmão mais velho e cabeça da Igreja, nós feitos gratuitamente membros seus, recebemos no Sacramento do Batismo a mesma veste de nossa cabeça e formamos um só corpo com Jesus Cristo.  Com Ele desfrutamos de todos os adornos das virtudes e graças com as quais o Espírito Santo amou e por amor deu a alma santíssima de Jesus Cristo. (Exercício de amor de Deus... 3 de fevereiro).
Para Maria Celeste, Jesus Cristo é, já o dissemos, “como um selo na mão do gravador com o qual se marcam todas as almas justas no ser da justiça. Com este selo de amor são gravadas todas as almas eleitas, e assim, com um só fazem-se muitos retratos vivos de seu único amor”.  Vendo-nos em Jesus “como membros unidos à nossa cabeça, o Pai que nos ama com amor infinito que é o mesmo amor com o qual o seu Filho amado e nô-lo dá na humanidade assumida; o Homem-Deus dá ao Pai todos nós em si mesmo. Este dom lhe é tão grato e excelente que impetra para todos nós almas criadas por ele um amor infinito do próprio Deus. Assim por meio de Cristo é-nos dada a graça de o mesmo Espírito Santo como esposo verdadeiro de nossas almas; por isso ama-nos como membros de nossa cabeça e, Cristo nos ver como verdadeiros filhos seus por amor por graça”. (Exercício de amor de Deus...6 de fevereiro)


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Escritos de nossa fundadora (Obras completas)


A Beata Maria Celeste escreve com inteligencia, profundidade, graça feminina, chistes, altivez, personalidade, humildade, sem renúncia às suas convicções e à missão de que tinha consciência ser de Deus, mesmo tendo de se separar e não só discordar quando lhe deve ter sido doloroso.

No mosteiro de Scala, donde a expulsaram e tentaram apagar a memória de sua pessoa e de seus escritos, mas (ironia divina!) conservaram o principal sendo elas mesmas "memórias vivas do Redentor", cerne cristocêntrico da espiritualidade que receberam dela.
Seus escritos são 16.


  • Autobiografia: muito fluente e agradavel de se ler;
  • Diálogos da Alma: São 152 paginas manuscritas, na maioria (de 1- 116 páginas), escritas nos anos de Scala, de 1724-1732. O restante em Roccapiemonte de 1737-1738, na tentativa de um mosteiro. Em Foggia, já no mosteiro de seus sonhos, encerrou-os com estas últimas palavras "...ella ama Dio com l'amore del Verbo, Uomo Dio, amante suo Sposo, oggi 10 del mese di settembre 1751"
  • Graus de Oração: Maria Celeste expõe sua experiencia de oração em 16 graus ou degraus, usando a comparação clássica da escada de Jacó, tão frequente na história da espiritualidade. São 132 páginas manuscritas que ela escreveu nos primeiros anos de Foggia. Apenas para ser completo enumero, sem comentário, os outros 13 escritos, também inéditos da Beata:

  • Instituto e Regras do SS. Salvador;

  • Dez dias de Exercícios Espirituais;

  • Sobre o Evangelho de São Mateus- Exercícios de Amor a Deus para todos os dias do Ano, mas só conseguiu escrever 193 meditações.

  • Exercício de Amor para todos os dias da Quaresma, de quarta-feira de cinzas ao domingo da Ressurreição. todos, exceto um, baseado nos capitulos 18 e 19 do evangelho de São João.

  • Exercício Interno de amor para o Advento do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo;

  • Meditação unidos a J. contidos nos Santos Evangelhos Para todos o Ano para o Advento do Senhor; 77 meditações, divididas em dois pontos, escritas nos ultimos anos em Foggia;

  • Novena do Santo Natal: 13 páginas, na forma como sempre muito querida por Maria Celeste, de diálogo entre o Esposo e a Esposa, escrita nos primeiros anos em Foggia.

  • Para o mês de Dezembro Exercícios Espirituais para cada Ano: Provavelmente são os exercícios espirituais que ela mesma pregou às dominicanas de Pareti, encarregada pelo bispo de Nocera de fazer reflorescer a vida monacal entre elas.

  • Sete Regras Espirituais: Escrita quando carmelita em Marigliano, em 1718 aos 22 anos de idade, reelaboradas no fim da vida em Foggia, e incluidas por ela na redação final de sua autobiografia.

  • Livro de Exercício Devotos: 10 paginas de orações, escritas também como jovem carmelita em Marigliano de 1718 a 1719. 

  • Jardinzinho interior do Divino Amor: Maria Celeste nos fala deste escrito seu na autobiografia. Devia ter muitas páginas, irremediavelmente desaparecidos. Só resta uma cópia não autografada da primeira página.

  • Cançõezinhas Espirituais e Morais: coletanea de poesias (muitas originais de Maria Celeste) em 3 códices: um de 45, outro de 78, outro de 56.
  • Cartas: São 28 cartas que restam das quais 3 ao então diretor espiritual (temido mais que amado); 15 a Santo Afonso (a primeira de 1730, a última de 1732).



(Autobiografia original de Maria Celeste no museu do Mosteiro do Santíssimo Salvador em Foggia )





segunda-feira, 5 de novembro de 2018

31 DE OUTUBRO DE 1696, MARIA CELESTE CROSTAROSA




TUDO COMEÇA NO AMAR

Edinardo Paz de Sousa[1]

            Desde a criação do mundo como também em todos os povos e tempos, o homem sempre fez a experiência de espiritualidade com tudo que era sagrado para sua vida. uma dessas experiencia é o do AMAR!
            O amor de Madre Celeste a Jesus Redentor faz parte da sua vida e deve fazer parte Da vida daqueles que abrem seus corações humildes e se deixam encontrar-se por essa redenção que abraça tudo que é humano.  Para ela o homem nada mais é do que sua fragilidade, o barro frágil na mão do oleiro, mas ao mesmo tempo grande em seus modos e pensamentos, pois, é em Jesus o homem perfeito que nos tornamos perfeitos também. O Amor de Cristo deu, ainda, a Celeste a capacidade de viver insistentemente à sua vida. Pois, desejava pela misericórdia do amor de Deus, vê-lo mais amado pelos homens. O Divino Redentor, Jesus que se esvazia de si e nos da a glória ( glória essa que é a entrega de sí mesmo pelo madeiro da cruz).
            Diante do amor derramado percebemos que a encarnação do verbo traz em si aquilo que todos esperavam o encontro pessoal com a própria vida.  Fazer a experiência de viver hoje o amor misericordioso de Deus em Jesus é dar as respostas para nosso mundo ferido, é fazer como que sejamos experimentados nas nossas misérias para encontrar a misericórdia do bem amado.
            O essencial na espiritualidade de Maria Celeste é o Evangelho como Amor feito Boa Nova. Para isso é preciso olhar para o Redentor e contempla-lo. Para Celeste é nesse instante que nos é revelado o rosto misericordioso do Pai Divino que cheio de amor para conosco, nos perdoa, sobretudo os mais pobres e humildes. Para Maria Celeste a última coisa, pela qual certamente nos diria hoje; que é preciso amar a Jesus Cristo e  recompensar o seu divino amor por todos nós  correspondendo com o que é  devido e cumprindo na nossa vida e na vida dos nossos irmãos o  amor oferecido como redenção. Para essa grande mulher em muitos casos, coremos hoje o risco de olharmos para Deus como uma personagem de infinita majestade, como um dos grandes e poderosos deste mundo, e não como um Deus humilde. Com isso para Maria Celeste não diferente dos outros santos, nos diz: “Deus se fez carne, homem, para que o homem pudesse ser divino[2]”. A redenção é copiosa, não somente porque nos liberta do pecado e de todos os seus efeitos, mas também porque nos dá uma vida nova em Cristo. A espiritualidade de Maria Celeste está na linha do ser viva memória de tudo o que Cristo fez para nossa salvação em sua vida terrestre. O Redentor continua em nós e, por nós, sua obra.
            Antes de tudo o que foi mais importante na vida dessa mulher foi deixar que o mistério de Cristo habitasse em sua vida. Particular habitação onde de fato a redenção foi abundante não só na vida dela como também, na vida daqueles e aquelas que os cercavam. O Cristo encarnado mostra em sua vida amor puro, e Maria Celeste mostra em sua vida o Amor de Deus que é o próprio Cristo. “Neste coração amante assentais com uma coroa imperial, decorada com pedras preciosas de valor infinito, tendo adquirido bens eternos para todas as almas por vós redimidas. Com aquelas que foram eleitas por vosso divino amor e com os justos operou-se a copiosa redenção[3]”.
            Portanto, na linguagem de nossos dias Madre Celeste vai nos dizer que o seguimento de Cristo Redentor não deve ser individual, mas comunitário. Pois hoje essa espiritualidade nos aponta dentro da igreja a seguir a Cristo e descobrir nele o amor de Deus Pai, que salva todos os homens. Ou seja, não fugindo do mundo, mas salvando estando nele. Essa dinâmica de espiritualidade antes de tudo, deve ser uma chama ardente que parte de nossa santificação pessoal para evangelizar o mundo, como nos lembra  muitos séculos depois o Concilio Vaticano II. Essa imitação do Redentor é encontrada nessa mulher que foge anos luz do seu tempo, e que ajudou na fundação de sua Ordem.

BIBLIOGRAFIA
SÉGALEN, Jean-Marie. Orar 15 dias com Maria Celeste Crostarosa. Uma mística da Eucaristia no século XVIII. Aparecida: Santuário, 2008.
LAGE, Emílio. A copiosa redenção segunda a Venerável Maria Celeste Crostarosa e Santo Afonso. [Trad. Pe. Paulo Sérgio Carrara]. Belo Horizonte, ?. Artigo não publicado.

           


[1] Licenciado em Filosofia pelo Instituto Católico de Estudos Superiores do Piauí (ICESPI). Graduando em Teologia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA).
[2] (SÉGALEN, 2008. p.65).

[3] (LANGE, [200-], p. 4).

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Como é Bela a Morte...




Como é Bela a Morte quando se viveu bem! Morrendo para esta vida, já na própria morte encontra-se a vida... para as almas justas, morrer é adormecer na paz... (a alma justa) está à espera da hora marcada. Eis chegada a hora: para uma alma que ama, não há notícia mais alegre e feliz, porque, para ela, o combate está terminado; porque tudo o que ela deixa, na realidade ela já o havia abandonado há muito tempo... Mas a maior de todas as alegrias é a de poder em breve possuir seu Bem-amado, que ao longo de toda a sua vida nela viveu aqui na terra, isto é, ao longo de toda a sua morte para o mundo. Esse amor no qual ela viveu, e foi crescendo e amadurecendo sempre, a morte lhe dará a posse dele na verdadeira vida.... Observe, então, minha filha, como é bela a morte quando se vive morrendo! (F-M, n. 141, Exercices spirituels de decembre, méditation 11).


Como é bela a morte! .... Estas palavras são palavras de amor. Maria Celeste é uma mulher que arde de amor pelo Senhor. A morte de que fala, ela a viveu durante toda a sua vida de nômade e de fundadora. Além disso, cada eucaristia era para ela ocasião de partilhar a morte e ressurreição de seu amigo Jesus, pela salvação do mundo.
Assim, ao término de uma vida movimentada marcada por toda sorte de tempestades, o testemunho de Maria Celeste é um grito de fé e um canto de esperança. Ela relembra aquela passagem de São João, que gostava de comentar em seus escritos: “Aquele que existia desde o princípio, aquele que ouvimos, que vimos com nossos olhos e que nossas mãos tocaram é o Verbo, a palavra de Vida. Sim, porque a vida se manifestou e nós a vimos e dela damos testemunho; nós vos anunciamos essa Vida eterna, que existia junto do Pai e se manifestou a nós. Isso que nós vimos e ouvimos, nós o anunciamos a vós também...”(1Jo 1, 1-3).
Maria Celeste deu e continua dando testemunho dessa vida de amor de Jesus. Como um eco à palavra dele: “eu vim trazer fogo à terra! ” ela escutou Jesus dizer-lhe um dia:

Que o amor seja meu alimento e a chama na qual você se inflame dia e noite, até que se torne fogo! Todo o seu ser seja um com o fogo, de tal forma ele a queime! E aspire depois que esse fogo consuma e você se aniquile sob as cinzas da verdadeira humildade. Não sendo mais você quem vive, continuará por isso vivendo e queimando nessa chama eterna que arde sem cessar e faz jorrar sua luz por toda a eternidade. Ser reduzida ao nada da cinza que produz esse fogo divino, estar morta ao mundo, a toda criatura, a toda coisa terrena, não vive senão de amor até se tornar, totalmente e sem qualquer diferença, fogo com o Fogo (F-M, n. 33, Exercices spirituels de decembre, mé ditation 20).

Maria Celeste ardeu nesse fogo de amor até sua derradeira hora. O que chama a atenção é que deia 14 de setembro de 1755, na festa da Exaltação da Santa Cruz, nada fazia prever a proximidade de sua morte. No entanto, lá pelo meio do dia, ela sente suas forças declinarem estranhamente. Pede que chamem um padre. Tendo começado sua vida religiosa no Carmelo de Marigliano, a espiritualidade dessa Ordem deixou marcas nela. Ao aproximar-se a morte, ela se lembra sem dúvida da oração de Teresa d’ Ávila ao agonizar, pois que essa oração havia inspirado muito de seus escritos:
“Meu queridíssimo Senhor, eis enfim chegada a hora que tanto esperei. Há bastante tempo nós nos vemos, meu Bem-amado Senhor! Já é hora de nos colocarmos a caminho. Está tudo combinado. Partamos! Que se faça a tua vontade.
É chegada a hora de sair deste exilio. É chegada a hora em que minha alma poderá fartar-se de ti, a quem tanto desejei”
Ela recebe então a unção dos enfermos e a eucaristia como viático, isto é, como o diz a palavra, como alimento para sua última viagem.
Pede em seguida que o padre leia em voz alta a paixão de Jesus segundo o evangelho de João. Em silêncio, ela escuta a palavra do Crucificado: “Tudo está consumado! E inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19, 30). Nesse momento, Maria Celeste, unida ao sacrifício pascal de seu amigo, inclina a cabeça e dá o último suspiro. Era por volta das três da tarde. Uma sexta feira.
Um misterioso perfume, um perfume de rosas, tomou conta do quarto da morta. Era como que sua assinatura: “Crosta-Rosa”, rosa de fogo! Era também uma mensagem. A última: o evangelho da rosa. Esse era o evangelho que Gandhi gostava de apresentar desta maneira: “Deixai, pois, vossa vida nos falar. A rosa absolutamente não fala, ela se contenta em espargir seu perfume. E, então, mesmo o cego, sem ver a rosa, sente seu perfume. É este todo o segredo do evangelho da rosa”.
Este é também o evangelho de Maria Celeste: sua vida e sua morte nos fazem ver, como por uma transparência, a vida e a morte de Jesus, a quem ela tanto amou.
(urnas que se encontram as fundadoras desse mosteiro)

Nessa mesma hora, em Materdomini, a uma centena de quilômetros dali, seu amigo Geraldo, muito doente- ele morrerá no mês seguinte-, exclama diante do irmão Estevão Sperduto, enfermeiro que o assistia: “Meu irmão, hoje Maria Celeste voou para o céu, para receber a recompensa de seu grande amor por Jesus e por Maria”. Um santo, Geraldo Majela, acabava de “canonizar”, por assim dizer, aquela a quem, já havia anos, o povo chamava “a santa priora”. É por isso que, nos dias que seguiram à sua morte, o povo de Foggia e dos arredores fazia vigília em torno de seu caixão, repetindo com tristeza: “A santa Priora morreu! A santa Priora morreu! ”.

E nós, hoje?

Quando rezamos, será que pensamos na nossa morte? Será que pensamos nela como Maria Celeste, não como uma catástrofe, mas como um encontro com nosso melhor amigo? Como um encontro a ser preparado? A ser preparado como uma festa?
Maria Celeste havia meditado longamente a paixão e ressurreição de Jesus, seu amigo, sobretudo na hora da comunhão. Será que empregamos tempo em refletir na morte sofrida por nosso amigo Jesus, que é, agora e sempre, o Crucificado-Ressuscitado? Será que aceitamos participar dessa morte e dessa ressurreição do Cristo, quando participamos da eucaristia?
Somos felizes, como Maria Celeste, por descobrir o quanto “ a morte é bela”, quando triunfa em nós, na força do Espírito Santo, a vontade de amor de nosso Pai do Céu, que a todos nos quer salvar e que nos convida, por isso, em cada eucaristia, a comungar o Cristo morto e ressuscitado?

Oremos com Maria Celeste

Em vós (Jesus)
Deus Pai me deu a vida.
Ó morte preciosíssima,
Que me ressuscitou para a vida!
Sim, meu Amor, Verbo bem-amado de
Deus,
Vós dais assim a vida àqueles a quem quereis fazer viver.
Mas Deus Pai não vos ressuscitou
Antes que houvésseis padecido
Vossa dolorosíssima morte.
Da mesma forma, vós não realizais na alma
Essa preciosa ressurreição,
Se a almanão começa por morrer, ao longo de toda a vida,
Em seus sentimentos interiores e exteriores,
Na vossa morte,
Para daí ressuscitar para uma vida nova de
Amor,
Em vós, o Verbo de Deus,
Vida de todas as coisas.
(F-M, n. 131, Exercise d’ amour pour chaque jour, 4 avril).




segunda-feira, 30 de julho de 2018

ultimas noticias


 Profissão Temporária da irmã Silvana no Mosteiro de Itu-SP





Profissão Temporária da Soror Maria Aparecida do mosteiro do Imaculado coração de Maria e da Sagrada Face em São Fidelis-RJ




Profissão temporária da irmã Mary Louisa no mosteiro de Liguori-EUA.




















Ingresso na etapa do noviciado da Ir. Maria Irenea de Jesus na Comunidade de Legazpe- Filipinas





Profissão pérpetua da irmã Maria Vrabce na comunidade de Kezmaroke-Eslovaquia
















Profissão perpétua da Irmã Maria Helena na comunidade de Saint Therese- Canadá

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Tua Bela e Querida Mãe, Maria...





 Hoje, durante a santa comunhão, tu me instruíste, ó meu Bem-amado... Num olhar luminoso, fixo, mas momentâneo, como num piscar de olhos, eu vi tua bela e querida Mãe, Maria (NN, Neuvième jour)



𝕿𝖚𝖆 𝖇𝖊𝖑𝖆 𝖊 𝖖𝖚𝖊𝖗𝖎𝖉𝖆 𝕸ã𝖊, 𝕸𝖆𝖗𝖎𝖆…Maria Celeste ama a Mãe de Jesus. Ela leu e meditou, em Lucas, o evangelho da infância. E também o Evangelho de João, no qual a Mãe de Jesus aparece especialmente em dois momentos-chave da vida de seu Filho: em Caná e no Gólgota.
Maria Celeste leu ainda o “Glória de Maria”, de seu amigo Afonso, livro que conheceu a maior tiragem entre todas as obras marianas de todos os tempos: mais de mil edições, em várias línguas! No magnífico comentário da “Salve- Rainha”, Afonso traz no capítulo “Salvação e Esperança nossa” orações que têm em comum com Maria Celeste muitos sentimentos, afeições e particularidades. Provavelmente, ela se inspira nesse livro quando escreve:

Esta Mae de amor foi em tudo semelhante a seu Filho, na pureza, na humildade, na uniformidade à vontade divina. Ela foi um Vaso de Ouro puríssimo de divina caridade. Não houve sequer um momento, uma hora ou pulsar de seu belíssimo coração, que não tenham sido ordenados para Deus, que não tenham sido em Deus ou de Deus. E Deus a deu como Mãe, como Mestra, como Exemplo, como Modelo (Meditation pour l’ advent, 36)

O que é incontestável é a presença de Maria em grande parte dos escritos de Maria Celeste. Bem antes do texto “Marialis cultus”, de Paulo VI, em 1974 ela descobre no Advento um tempo mariano por excelência. Em seu livro Méditations de l’Advent et Noel, mais de cinquenta meditações são consagradas a Maria, como atesta esta passagem:

Sim, minha Soberana, vós entrais no jardim divino de Deus Pai, em seu Verbo feito homem, para traçar, nesse santo Jardim, uma cópia viva do divino Modelo...  Vós sois bem, minha Soberana, a autêntica imagem do Modelo, um verdadeiro retrato de Jesus.
Ó minha Mãe, vós sois um cristal puro e brilhante, que esparge mil raios... Nesse jardim de Deus, vós sois a convidada e, graça a vós, nós o somos também; nós os vossos amigos, isto é, todos aqueles e todas aquelas que convosco entram no jardim da Santa Humanidade e que querem imitar a vida e as virtudes de Jesus, tornand-se assim cópias autênticas dele...
Ó Maria, Jesus quer que lhe sejamos semelhantes, mas só vós lhe fostes verdadeira cópia, na qual Jesus-Menino, Homem-Deus, pôde contemplar-se e comprazer-se.
Ó Mãe do Belo Amor, eu recorro a vós. Fazei-me entrar nesse belo jardim, onde o Pai encontra suas delícias em Jesus, seu Filho. Concedei-me reproduzir em mim sua perfeita imagem...
Esta é uma oração para obter a perfeita imitação de Jesus Cristo (F-M, n. 11 Exercice d’amour pour chaque jour, 30 décembre)

Essa devoção mariana de Maria Celeste tem suas raízes na devoção do povo cristão à Mãe de Deus. Cada manhã, do mais profundo de seu coração, eleva-se esta prece, que ela mesma havia composto para sua “bela e querida Mãe, Maria”:

Virgem santíssima, Mãe de Deus e minha mãe, tu és, depois de Jesus, toda a minha esperança. Tu és meu amor, minha consolação: a ti recorro. Minha Soberana Bem-amada, em teus braços tão doces quero viver e morrer. Por isso, renovo minha veneração beijando três vezes a terra, pedindo que sejas meu socorro, minha defesa, meu conforto neste santo dia, e que me coloques como tua devotada filha debaixo de teu manto virginal. Beijo tuas santíssimas mãos e te suplico me abençoares na adorável Trindade (Favre, op. Cit. P. 351)

Além disso, sua Mãe Maria está muito presente na fundação do novo Instituto, para a qual trabalha Maria Celeste. Um dia, no verão de 1731, na hora da eucaristia, em uma luz interior ela vê a Mãe de Jesus. A isso se refere numa carta a seu amigo Afonso:

Certa manhã, após a comunhão, durante esse repouso de amor em meu Jesus, obtive uma luz interior e vi Mamãe Maria... Meu divino Esposo, Jesus, doou a sua queridíssima Mãe todas as almas deste Instituto, a elas se referindo como suas filhas de predileção; e ela, por sua vez, aceitou-as com grande amor.... (R, p. 253).

Eis porque, quando Maria Celeste redige a Regra para as Monjas de seu Instituto, realça a importância da devoção mariana:

Nós nos lembramos também que Maria esteve intimamente ligada ao mistério da redenção. Ela á Mãe de Deus, Mãe da Igreja e nossa Mãe. Primeira crente, primeira resgatada, modelo de docilidade ao plano de Deus. Amaremos contemplar as maravilhas realizadas pelo Senhor, em Maria, e nos esforçaremos em ter uma piedade mariana cada vez mais verdadeira e profunda (Constitutios et statuts, ch. I 8).

E nós, hoje?

Será que Maria tem um lugar em nossa oração? Um lugar privilegiado?
Quando pedimos a ela que rogue por nós, será que não nos esquecemos muitas vezes que ela é antes de tudo uma mãe: a mãe de Jesus, a mãe da Igreja e também nossa mãe? Pelo fato de a vermos, em nossas igrejas, vestida como princesa, coroada como rainha, será que não corremos o risco de esquecer que ela é antes uma mulher, uma verdadeira mulher da terra?
Se a encontrássemos pelas vielas de Nazaré, no dia da Anunciação, nada a distinguiria das demais jovens de seu tempo. Nada, senão um olhar maravilhosamente claro e puro. Nada, senão uma amizade maravilhosamente aberta e acolhedora de todos. Nada, senão uma felicidade maravilhosamente jovial e prestes a explodir nas palavras do Magnificat. Nada, senão uma vontade maravilhosamente firme, livre e responsável.
Pois Maria é mulher que, depois de Jesus, disse a Deus Pai o “sim” mais verdadeiro, mais fiel, mais perfeito de toda a história da humanidade. Pois seu “sim” não foi um “sim” de um momento de êxtase, mas o “sim” de toda uma vida.
Com Maria Celeste, peçamos a Maria que interceda por nós a fim de que nosso “sim” ao chamado do Senhor seja verdadeiro hoje e fiel sempre.

Oremos com Maria Celeste


Mãe do Amor, eu recorro a vós,
a fim de que, por vossa intercessão,
a viva imagem de Jesus seja bem gravada
em mim,
para que assim meu Pai do céu
me olhe com o mesmo amor infinito
com o qual ele olha em si mesmo
seu divino Filho bem-amado,
e com o qual ele nos ama,
a nós que levamos a marca de sua humanidade
 (F-M, n. 12, Exercice d’ amour pour chaque jour, 31 décembre)

domingo, 8 de julho de 2018

Subindo o Monte Sagrado com a Beata Maria Celeste, CSsR.





Certo dia, um jovem piedoso perguntou ao Senhor: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?”, e o Senhor respondeu: “Porque me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos”. O rapaz perguntou a Jesus: “Quais”? E o Senhor respondeu: “Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo”. O jovem respondeu: “Tenho observado tudo isso desde a minha infância. Que me falta ainda?” O Senhor disse: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (S. Mt 19,16-21). Sabemos que o jovem aspirando um caminho sublime de verdadeira felicidade, foi-se triste, pois possuía muitos bens...
         Alma cristã, talvez já devas ter se perguntado o que fazer para ser feliz. Queres realmente ser feliz? Teu Senhor já indicou o caminho. Não poderás ser feliz satisfazendo-se no mundo, se pudesse, Ele mesmo teria indicado, mas antes disse que quem quisesse O seguir – Ele: “o caminho, a verdade e a vida” (S. Jo 14,6) – precisaria renegar-se a si mesmo, tomar a cruz de cada dia e O seguir, “porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á” (S. Lc 9,23).
         Santo Agostinho[1] e tantos outros Santos confirmam que a alegria só pode ser encontrada dentro de si, onde habita o Senhor. Só se é plenamente feliz quando se realiza a vontade de Deus, quando se escolhe o que Ele quer e desprendido de toda vontade humana, opta-se por aquilo que agrada a Deus, amando-O. E como se ama a Deus? Jesus o responde: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e manifestar-me-ei a ele” (S. Jo 14,21). Ama-se também obedecendo aos conselhos que Deus dá na vida cotidiana, como parece dizer a Beata Maria Celeste. Esta aconselha, alma cristã, a caminhar “na escada da fé e seguir Cristo, o Único que atingiu a união perfeita com o Pai, por uma via tão comum quanto a tua, porém mais dolorosa” (CALVER, Joan. Em Memória de Mim: Jesus Redentor na espiritualidade de Maria Celeste Crostarosa, 1987, p. 41).
         Fazer a vontade divina pressupõe-se a deixar-se guiar por Deus, tendo apenas como luzeiro a FÉ. Assim diz a Beata redentorista: “Começando pela fé, como o primeiro e menor degrau da escada mística, ele se tornará o caminho que conduz ao alto. À medida que se eleva, ele oferece à alma um caminho confiável para a união com Deus” (CALVER, Joan. 1987, p. 52).
         Alma cristã, se acreditas em Deus e em seus desígnios, permitas ser conduzida aonde Ele desejar te levar, não receeis passar por momentos de escuridão e de deserto interior, pois assim diz o Senhor: “Por isso a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração” (Os 2,16). Se o teu Senhor lhe chamar a uma entrega mais profunda no mundo ou mesmo se Ele te exigir uma autenticidade na sua vida cotidiana, não temas em corresponder! Tens o exemplo dos Santos e de tantos outros filhos de Deus que somente Ele conhece o nome... Tens a vida da Beata Maria Celeste, que como os outros amantes do Senhor, receberam o cêntuplo por ter seguido o caminho que Deus indicou (S. Mt 19,29).
         A Beata assim ensina: “Quem subirá a montanha do Senhor (Sl 23[24], 3). Todo aquele que desejar subir o primeiro degrau da escada mística, a fé, agarrando-se aos suportes da ‘esperança’ e da ‘entrega de si’.” (CALVER, Joan. 1987, p. 51). Queres subir ao monte divino, Alma cristã? Acredite no que o Senhor lhe inspira e fala por meio de teus sacerdotes. Tens dúvida para qual caminho seguir? Peça auxílio ao teu Senhor e a tua Mãe Santíssima e creia que “tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis” (S. Mt 21,22). Mas lembre-se que “a fé sem obras é morta” (S. Tg 2,26). Precisarás de ter uma “determinada determinação” como ensina Santa Teresa de Jesus, carmelita descalça, para fazer aquilo que teu Senhor o indica.
         Filho e filha de Deus, não reduzas a tua existência ao que é terreno e efêmera, olhai para sua vida CELESTE e tenha a resolução de tomar partido por Deus, teu Senhor e teu único Tesouro.
Júlia Maria de Jesus.




[1] Cf. AGOSTINHO, Santo. Confissões, cap. 10: “[...] Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz”.




Referências:

AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus Editora, 1984.

Bíblia Sagrada. 133 ed. Editora: Ave Maria, 2000.

CALVER, Joan. Em Memória de Mim: Jesus Redentor na espiritualidade de Maria Celeste Crostarosa, 1987. 63 p. Link disponível em: https://drive.google.com/drive/ folders/1dFnh0H JuvsfAcDcS OnM_iJFGVE48aAKj?ogsrc=32.

JESUS, Santa Teresa de. Livro da vida. São Paulo: Paulus Editora, 1983.

terça-feira, 12 de junho de 2018

O Amigo que lhe dei..





Carta de Maria Celeste endereçada a Afonso, em abril de 1731:
Meu pai, pensavas que estarias isento de participar de nossas dificuldades? Todos os que nos amam devem também participar de nossos sofrimentos... Os corações estão todos nas mãos de meu Deus. Que posso temer? Ele nada me negou ainda do que eu tenha desejado com o puro fim de sua honra e de sua glória. Ao saber dessas notícias (proibições feitas a Afonso) *, busquei a meu Esposo na oração, queixando-me a ele. Ele, consolando-me, me disse: “Não tenha medo. Ninguém poderá tirar de você o amigo que lhe deu” (S, p. 149)

O amigo que lhe dei.... É Afonso de Ligório. Maria Celeste o havia encontrado pela primeira vez no ano precedente, à época das visões e revelações sobre a fundação do novo Instituto. Era o tempo em que caíam sobre ela, violentamente, críticas e zombarias. Afonso é, então, e será sempre, seu apoio. Maria Celeste sabe disso e o declara em carta de 4 de outubro de 1730:

“Meu pai, eu sempre te encontro como companheiro em minhas pobres e frias orações e, unida a teu espírito, faço minhas comunhões e me serves de companhia. Mas meu prazer é maior ao ver que toda a nossa comunidade te lembra sempre com alegria. Que o Senhor abençoe para sempre nossa amizade, para sua glória e honra” (M, p. 21).

Maria Celeste confidencia a Afonso outra revelação do Senhor, que lhe dizia respeito. Ela a recebeu, como de costume, na hora da comunhão:

“Certa manhã, após a comunhão, vi com grande clareza os dons e bens que o Senhor havia concedido a tua alma: “Você receberá muitas graças minhas por meio dele, e ele, por sua vez, muitas graças receberá de minha misericórdia por meio de você. O sinal mais claro que dou a este meu servo, para que conheça que o amo, será que todas as almas, que estiverem sob seus cuidados ou ouvirem suas pregações, eu as cumularei de graças e com a salvação... Eu darei a ele os maiores dons de meu amor, que conduzem ao único fim supremo da união comigo”” (R, pp. 253-254, carta de fins de setembro ou princípios de outubro de 1731)

Em suas cartas, Afonso não esconde a amizade por Maria Celeste. Ela é das raras pessoas a quem trata com intimidade, como aliás, ela o faz também. Afonso a chama: “Celeste...minha Celeste... minha querida Celeste... minha irmã muito amada em Jesus Cristo e Maria...” Em resposta a uma carta em que Maria Celeste lhe havia escrito: “Em que minha alma pode tanto te interessar? ”, ele escreve: “Ah! Celeste, não me digas isso; é muita ingratidão, pois que a união de nossas almas em Cristo Jesus está tão avançada.... Não sabes então que o interesse de tua alma são os meus interesses? E isso, foi Deus quem fez, de forma alguma eu. A mim não me é possível não desejar para ti a perfeição total, da mesma forma que a desejo para mim. Tudo o que te escrevi, minha Celeste, eu o escrevi porque te amo em Jesus Cristo”
Afonso não era o único amigo de Maria Celeste. Bispos e padres oferecem-lhe sua amizade. Mas sobretudo os missionários da Congregação que Afonso havia fundado e da qual ela havia sido a inspiradora. Entre eles, distingue-se um irmão: Geraldo Majela. Quando ele ia a Foggia- e ia frequentemente-, narra Tannoia, seu biográfo, a primeira coisa que fazia era visitar madre Maria Celeste. Ela ficava feliz por falar com Geraldo, e Geraldo era feliz por gozar da amizade de Maria Celeste.
Geraldo estabeleceu com ela e com as irmãs da comunidade dela laços tão fortes de união a ponto de participar do desabrochar de numerosas vocações de monjas redentoristas e ser de muitas vocações o grande animador durante sua tão breve vida religiosa, que não durou nem seis anos.
Os seres humanos costumam ter amizades seletivas: são os colegas do mesmo sexo, da mesma idade, do mesmo bairro, da mesma profissão, dos mesmos estudos, com as mesmas convicções religiosas ou políticas. Jesus, ao contrário, tinha amizades sem fronteiras: as crianças, os doentes, os desequilibrados, os pagãos, os estrangeiros, os pobres, as mulheres... todos eram seus amigos.
Entre os santos houve muitas amizades célebres. Por exemplo: Escolástica e Bento; Clara e Francisco de Assis; Joana de Chantal e Francisco de Sales; Luísa de Marillac e Vicente de Paulo. Da mesma forma, Maria Celeste, Afonso e Geraldo. E os três eram, incontestavelmente, amigos de Jesus eucarístico. A eucaristia, a visita ao Santíssimo Sacramento marcaram sua vida cristã desde a infância. (Cf. Orar 15 dias com Santo Afonso e Orar 15 dias com São Geraldo, Aparecida, E. Santuário)
Assim, para os três, ao lado de seus numerosos amigos da terra, havia este grande Amigo do céu, o Amigo por excelência, Jesus, com quem se entretinham todos os dias, especialmente na hora da comunhão, e a quem Maria Celeste podia falar de seu reconhecimento:

“Ó Rei de meu coração, como é doce tua voz aos meus ouvidos. Este nome de amiga que me dás faz-me morrer de doçura. Tenho a impressão de que teu coração e o meu não tem senão uma mesma respiração e um mesmo amor. Sinto-me cumulada de teus bens, num abandono total de todo o meu ser em ti” (NN, Huitème jour).

E nós, hoje?

Temos nós amizades estreitas, limitadas, ou amizades abertas, sem fronteiras? Estamos prontos, como o Senhor, a acolher em nosso coração aqueles e aquelas que encontraremos no dia de hoje?
Trazemos nossos amigos em nossos corações? Sem esquecer os outros, todos os outros?
Estamos conscientes, como Maria Celeste, de que o Senhor escolheu ser nosso maior amigo? Estamos felizes por essa incrível amizade do Senhor por nós?
Quando rezamos, será que nos contentamos em recitar belas fórmulas ou temos o hábito de falar com Deus “como um amigo fala com seu amigo”, como Moisés (cf. Êx 33, 11), como Maria Celeste e inumeráveis crentes ao longo da história?

Oremos com Maria Celeste

Meu Bem-amado Senhor e Esposo,
Tu és meu único e particular amigo,
Oh! Sinto que não poderia viver
Nem uma hora, nem mesmo um instante sem ti.
Parece-me que meu espírito não se alegra
Senão quando pensa em ti.
Cada dia, cada hora que passa
Me aproxima do momento
Em que terei a alegria infinita e eterna
De ver teu rosto!
(F-M, n. 138, Entretiens IX)