Com
isso abriste os olhos da minha alma para ver quanto importa à alma a diligência
e a fidelidade que devem ser usadas em conservar as graças recebidas e em
aumentá-las com o exercício das santas virtudes.
Mas
Vós, rei da minha alma, me declarais que, neste sacramento da Eucaristia,
derramais na minha alma um torrente de graça quase infinito, como fizestes esta
manhã, dignando-vos cavar do vosso precioso lado um globo de luz, de onde saíam
duas vestes belíssimas: a primeira, branca, que acrescentava a veste da
inocência, a qual colocáveis sobre a minha alma; e depois desta me vestíeis com
a outra, que era de cor vermelha, para o hábito da caridade, assegurando-me que
ambas essas vestes eu as havia alcançado pelo mérito do vosso precioso sangue.
Aqui não houve ato material nem forma de
palavras humanas. Sei apenas que me vi enriquecida de vossos bens eternos e de
tesouros incomparáveis, que não sei explicar nem compreender.
Ó
belo e divino coração do meu Amado, eu gozo e exulto de alegria ao ver que o
vosso sangue e o vosso coração são de tanto valor que transformam um monstro de
abismo em um anjo de luz, assim como fizestes comigo, miserável, neste dia.
Senhor meu, deixastes na minha alma uma luz de verdade, que me faz reconhecer que eu, nos dias passados da minha vida, deixei passar tantas belas ocasiões de virtude, nas quais podia fazer crescer a vossa divina graça até uma grandeza quase infinita, mas me deixava ofuscar a vista pelo meu próprio amor e pela minha honra. Pois, se alguma pequena coisa minha era tida em má conta pelo próximo, logo eu procurava justificar-me diante de todos com razões, para que ninguém tivesse má opinião de mim. E às vezes eu sentia apenas pena e incômodo, como se tivesse sido cometida uma injustiça e algo quase insuportável.
Meu
Esposo, tomo prazer em contemplar estas verdades. Prometo-vos, com a vossa
graça e auxílio, não dar mais importância a semelhante vaidade e loucura. Hoje
me mostrais na verdade o que é a estima humana: como um vento momentâneo, que
logo deixa de existir no mesmo instante. E por isso não devo fazer caso algum
dela; mas, humilhando o meu espírito abaixo de todos, sem me exaltar nem
considerar tais coisas.
Mostrais-me ainda, com o vosso habitual sinal de pureza, os coros angélicos celestes que, no ato puro do seu ser, estão fixos e sem interrupção em vos contemplar. E quereis que, em companhia deles, eu mantenha o olhar do meu intelecto e da minha consideração; e que, assim como para esses espíritos de pureza as coisas da terra diante deles são como os átomos que se veem ao sol material, assim também eu deva considerá-las. Em sua companhia devo viver com o espírito.
Oh,
quão grande utilidade há nesta visão de multidão que me descobristes, meu bem,
destes cidadãos celestes, aos quais é moveu a minha alma ao bem, com o olhar
reto da sua pureza. Faz-me participar, por eles, de uma vigilância e suavidade
divinas. Eu vos dou graças infinitas e eternas por isso, meu sumo Bem.




