Esposa:
Despertou-me
a tua voz de pureza, ó dileto da minha alma, neste dia, falando-me assim:
Esposo:
Esposa:
Vós,
meu poderoso Senhor, conduzis-me, com estas palavras acima mencionadas, ao
próprio ato que me ensinastes, na dulcíssima complacência do gosto divino. No
vosso mesmo amor, Jesus, comunicais-me uma advertência atual no agir, com
fortaleza, contra a própria inclinação.
E
nesta manhã, ao subir as escadas da comunhão, depois de vos ter recebido no meu
coração, num só instante vi no meu peito a vossa sacrossanta humanidade
crucificada; e no meu espírito fazíeis em mim um ato de amorosíssima
complacência de morrer pelo gosto e pela vontade do vosso Pai, por todos os
pecados do mundo. Mandastes-me, no vosso aceno, que este ato fosse o meu
exercício deste dia. Vós, meu Jesus, por vossa única bondade, inspiráveis este
ato intrínseco ao meu espírito, como no vosso próprio coração, produzindo atos
de pura caridade para com o meu Deus. Com voz de pura suavidade falava-me assim
a vossa pureza:
Esposo:
Toda
a ocupação da tua vida, daqui em diante, não será outra coisa senão no meu
coração e na minha vida, onde viverás. Deixa que eu te conduza pelos caminhos
que me agradam. Não realizes atos queridos ou escolhidos pela tua vontade ou
arbítrio, tanto nas obras externas como nas internas. Pede-me em tudo a
disposição dos movimentos das tuas obras e da tua vida. Eu quero conduzir-te a
um monte perfeitíssimo e altíssimo, pela renúncia do teu próprio querer, aos
tabernáculos do segredo do meu coração, pelo caminho da minha providência. Vai
por ele com passos de confiança e segurança, apoiada nas minhas costas e nos
meus braços, como uma menina de dois anos no seio da sua mãe, subindo pelos
outeiros deste monte das riquezas, isto é, pelo Calvário, para que, instruída
nos meus tesouros, te apaixones por eles.
Eis-me
pronta, meu Senhor; faze do meu querer e da minha vida aquilo que te for
agradável. No mundo, para mim, não há outro senão tu, meu Jesus, luz e vida
minha eterna. Grandes são as belezas que vejo neste dia sobre este monte do teu
Calvário, mas seria demasiado longo se quisesse dizê-las distintamente e
enumerá-las todas.
Pareceu-me
ver, debaixo da tua cruz, uma grande quantidade de sangue, que forma um
agradável ribeiro, e ali nasceram muitas pequenas ervas tenras e flores
fresquíssimas e vermelhas. E nisto me declarais que as ervas e as flores são os
santos mártires e todas aquelas almas que estão no martírio do puro amor, que
anseiam por cruzes e tormentos sob o jugo da mortificação e dos trabalhos. E
estas nadam e fazem cortejo a vós mais de perto, ó Rei da glória, no vosso rico
monte. Aí me declarais quão copiosos e preciosos são os frutos da paciência na
bem-aventurada eternidade, porque nascem da bela raiz do puro amor.
Ah,
meu amor, concedei-me um lugar entre estas flores e entre estas ervas, já que
na minha vida passada estive longe do Calvário e da cruz. Ah, meu bem, ou
dai-me penas ou dai-me a morte!




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