segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Dom João fala sobre o Ano da Vida Consagrada


Em contexto com as celebrações pelos 50 anos do Concílio Vaticano II o Papa Francisco dedicou o ano de 2015 à vida consagrada. Aproveitando a vinda de Dom João Braz de Aviz, ao Brasil, os jornais O São Paulo, do estado de São Paulo e Testemunho de Fé, da Arquidiocese de São Sebastião, no Rio de Janeiro, fizeram uma entrevista para saber mais a respeito das comemorações para este ano dedicado aos consagrados.
Dom João falou da importância de se ter um ano inteiro dedicado à vida consagrada. Comentou também que um dos objetivos é fazer com que os consagrados olhem para o futuro com esperança, desapegando dos pecados e deixando os erros do passado para trás.
Por fim Dom João falou sobre os anseios e desafios da vida religiosa nos dias de hoje. “Temos que recuperar profundamente a vida fraterna, a vida de família dentro das congregações e das ordens. Por que se você está numa casa e não se sente bem nela, você vai para a rua. O jovem também faz isso. Nós temos que recuperar esse senso da fraternidade, onde você está com o outro e sente alegria, não desconfia, onde você quer o bem do outro e se deixa modificar pelo outro.”
Segundo o Cardeal que é prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, atualmente são aproximadamente um milhão e meio de religiosos e religiosas espalhados em cerca de dois mil institutos, ordens, congregações ou institutos de apostolados leigos no mundo.
Por Kamila Aleixo

Acompanhe a entrevista completa:

O SÃO PAULO: Por que um ano voltado à vida consagrada?
Dom João Braz: O Papa Francisco sente que, neste momento, a vida consagrada precisa olhar para o passado com grande gratidão. Não vamos ficar só chorando pelos pecados. Tem muita coisa de erro, sim, mas também há muita tentativa de desmoralizar a Igreja. Vamos olhar para o passado agradecendo a Deus por tudo de bom e vamos rever o que está errado sem medo.
Depois, queremos olhar para o futuro com esperança. Não dizer “Ah, está tudo morrendo mesmo, não tem mais jeito”. E viver o presente com paixão. Esse é grande programa para o Ano da Vida Consagrada. O Papa tem um grande amor pela vida religiosa.

Quais ações estão previstas para marcar o ano da Vida Consagrada?
Estamos preparando a assembleia plenária da nossa Congregação para os Institutos de Vida Consagrada para outubro ou novembro de 2015. Também queremos realizar um encontro de superiores gerais em Roma. Prevemos, ainda, um encontro de pessoas que estão no âmbito da formação nos vários institutos, e queremos realizar, também, encontros por vocações e algo específico para vida contemplativa, como uma corrente de oração.
Essas são as primeiras perspectivas... O Papa também nos pediu para renovar os documentos fundamentais que falam da vida consagrada. Por exemplo, o documento que fala da relação entre bispos e religiosos, nós temos que rever, pois está desatualizado. O documento que fala da vida contemplativa dos monges e das monjas também tem que ser revisto, pois o que temos agora é de 1950.
Além disso, estamos para publicar um documento sobre os chamados “irmãos”, ou seja, aqueles que são consagrados e não se tornam padres, para revalorizar essa vocação como ela é. É uma vocação muito grande e ela foi deixada um pouco na sombra. Já estamos com o documento quase pronto. E, claro, queremos escutar aquilo que vai nascer no mundo inteiro.

Como apresentar aos jovens a vida religiosa? Ela responde aos anseios do homem atual?
É interessante, mas o jovem quer seguir Jesus. Quando a gente fala e testemunha Jesus, a gente nota que o jovem quer um grande ideal. Então, quando o jovem ouve um grande ideal e ele vê testemunhado um grande ideal, ele se sente atraído. Hoje, aqui no Rio de Janeiro, a referência que tenho diante dos meus olhos é a imagem do que aconteceu entre os jovens e o Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Mas isso não é só aqui. Nós temos, por exemplo, movimentos onde os jovens tem despertado para todos os tipos de vocações.
Tem muita gente que pensa que a vida consagrada não existe mais. Ela não tem mais a mesma força em determinados lugares, como a Europa. Mas aqui na América Latina, África e em parte da Ásia as vocações estão se desenvolvendo de modo muito profundo.
Neste sentido, o jovem responde. Mas ele precisa de autenticidade e de desafio, pois o jovem não quer coisa pequena. Ele quer algo que valha a pena dedicar toda a sua vida.

Como renovar a vida religiosa sem perder a fidelidade aos carismas?
Aqui tem duas coisas. O carisma é como uma herança que cada família religiosa recebe do seu fundador, da sua fundadora. A primeira coisa é que se uma congregação quer sobreviver, deve permanecer fiel à luz que recebeu. Se começar a pular de galho em galho, e ir para campo que não é dele, ele mata o carisma, por que a graça não estava naquela outra coisa, mas naquilo que foi dado ao fundador.
Agora, do outro lado, o fundador, às vezes, viveu no século passado e a linguagem do século passado, a organização da sociedade, eram diferentes. Então, precisa atualizar o diálogo com a cultura atual. Nós temos que escutar o homem e a mulher, perceber quais são as suas sensibilidades, quais são seus valores, conviver e aprender com a sociedade, mas não perder aquilo que vem do carisma e aquilo que vem do Evangelho.

Quais são as preocupações e anseios da vida religiosa hoje?
Nós temos alguns problemas. Por exemplo, temos que recuperar profundamente a vida fraterna, a vida de família dentros das congregações e das ordens. Por que se você está numa casa e não se sente bem nela, você vai para a rua. O jovem também faz isso. Nós temos que recuperar esse senso da fraternidade, onde você está com o outro e sente alegria, não desconfia, onde você quer o bem do outro e se deixa modificar pelo outro.
Outro desafio é voltar aquilo que foi a primeira decisão da gente no seguimento da vocação do consagrado. O que aconteceu ali? Ali Deus manifestou seu grande amor pela gente. E nós nos sentimos atraídos pela beleza deste amor. Depois, acabamos nos desiludindo um pouco, o caminho é sempre difícil, com tropeços. Então, é preciso recuperar essa ligação profunda com Jesus para se deixar moldar por ele.
Também é preciso saber a hora de sair das obras... Se tem muita obra e pouca gente, deixa de lado um pouco de obra. Não mata o carisma. Segura o carisma e deixa as obras. Deixa a obra à disposição da Igreja e cuida do carisma.
Também é preciso fazer a ligação entre novos e antigos carismas. Não são dois Espíritos. É o mesmo Espírito que falou no passado e que agora fala no presente. Se não a gente contrapõe os movimentos atuais dizendo “bom, os outros já passaram, e agora é conosco”. Não é assim.
Fonte: Arquidiocese de Brasília


Nenhum comentário:

Postar um comentário