domingo, 2 de março de 2014

“Reinventar-se a partir do pó”

cinzas

“Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó hás de voltar” (Gn 3,19). A advertência que, na Quarta-Feira de Cinzas, chama a atenção do ser humano para sua finitude e provisoriedade, por outro lado, apresenta-se como uma porta aberta para a criatividade de quem abre o próprio coração para “reinvertar-se”. Já dizia a poetisa Cecília Meireles: “A vida só é possível reinventada”.
O crente do Antigo Testamento derramava sobre a cabeça um punhado de cinzas para se recordar o quanto era insignificante diante da grandeza de Deus! Sem abandonar por nenhum instante seus atributos grandiosos, Deus se dispôs a fazer-se um de nós no espaço e no tempo: Jesus Cristo, embora sendo em tudo semelhante a Deus, não se apegou a esta condição e se fez Grão de Trigo que, triturado no flagelo da cruz, tornou-se farinha, pó, pão, Pão da vida… Jesus é a presença encarnada de um Deus criativo, que nos chama à mesma criatividade na reinvenção. De uma situação totalmente desfavorável, da aniquilação total em todos os níveis, Jesus se reinventa e, Ressuscitado, eterniza sua presença entre os seus e os convida à mesma dinâmica: reinventar-se significa converter-se, buscar o melhor de si mesmo, com humildade e comprometimento.
Se o pó remete a situações de morte e abandono, também pode ser sinal da doação de muitos elementos que se unem em favor da vida. Basta lembrar-se da sagrada multimistura distribuída em todo o Brasil pela Pastoral da Criança e que vem salvando milhões de vidas infantis das doenças provenientes da desnutrição. Pó da vida. Cada um daqueles ingredientes se doa totalmente, se mói, se destrói para dar origem à mistura da vida e da salvação. É assim que o cristão é chamado a se portar: morrer para si, para o próprio egoísmo, para os interesses superficiais com o objetivo de se integrar a esta grande mistura (comunhão) de vida que é o Reino de Deus.
Que as cinzas recebidas nesta Quarta-Feira sejam sinal deste compromisso em tentarmos ser diferentes, sempre para melhor, sem medo ou qualquer espécie de tristeza por sermos tão pequenos e precários, pois mesmo assim Deus nos ama incondicionalmente. Revistamo-nos do pó que realmente somos, sem lamúria ou complexo de inferioridade, dando graças e louvores a Deus por Ele, mais uma vez, nos convidar a este esforço de conversão.

Frei Gustavo Medella (http://www.franciscanos.org.br/?p=53319)



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