sábado, 4 de outubro de 2014

Uma mística da Eucarístia no século XVIII


 Maria Celeste é uma mística do século XVIII, o século das Luzes e da Razão, caracterizado pela rejeição a todo misticismo. Numa época em que as mulheres pouco valem na sociedade, e mesmo na Igreja, Maria Celeste é uma mulher forte, perseverante, enérgica, decidida.
Sabe dizer sempre "sim" a Deus. E quando necessário sabe dizer "não" aos homens, inclusive aos homens da Igreja.

   Seus Escritos não são muitos e são poucos conhecidos. Certamente ela aprendeu a ler em sua juventude, mas jamais aprendeu escrever, como, aliás, muitas jovens de seu tempo. Isso, entretanto, não a impede de escrever a pedido de seu confessor, de seu diretor espiritual e, sobretudo, a mando do próprio Senhor:


 Bem- amada de meu Coração, escreva a meu respeito; o que eu lhe comuniquei em segredo, diga-o publicamente,  pois é vontade minha que publique todas as verdades recebidas de minha Sabedoria, como também as revelações  sobre minha Encarnação e a grandeza das obras que fiz, quando assumi a natureza humana.
 (Pe. João Batista Leite-Autobiografia)


   Maria Celeste não escreveu para ser editada, ao contrário de seu amigo Afonso, que considerava seus livros como instrumentos de evangelização. A isso ele havia sido encorajado pelo bem-aventurado Janúario Sarnelli, seu companheiro de apostolado, que, com humor, gostava de dize: "Com meus livros, eu pregarei até os confins do mundo."

   São mais modestas as ambições de Maria Celeste. apenas quer colaborar com o esforço de esclarecer a respeito de sua vida espiritual e da fundação do novo Instituto, para a qual, desde 1725, o Senhor a convoca. Erros de ortografia e pontuação, bem como termos do dialeto napolitano, são abundantes em sua pena. simplesmente conta o que se passa entre ela e seu "Amigo bem-amado", o Senhor Jesus. Ela fala "com o arrebatamento de uma mística e se inflama como um vulcão, cuja lava incandescente se solidificou na massa de um dialeto napolitano do século XVIII, sob a pena de uma mulher que praticamente não estudara e para quem o único livro, parece, era a Bíblia. Mas que fez descobertas surpeendentes, para a época, no oceano mais profundo da Palavra de Deus" (Marie-Christine, O.Ss.R., Ma vie c´est le Christ, les écrits de Mère Marie Celeste Crostarosa, Landser, p. 2).

   Os escritos de Maria Celeste revelam uma espiritualidade simplesmente espantosa sobre a eucaristia. Como outros contemplativos, ela sabe mais sobre esse místerio que célebres teólogos. Ela é bem consciente de que cada comunhão não é somente um encontro com o Cristo, mas uma união transformadora, a um tempo dolorosa e feliz: sem deixar de ser ela mesma, ela se torna "corpo de Cristo" e pode dizer com Paulo: "Cristo vive em mim" (Gl 2, 20).



   Narrando sua vida espiritual, Maria Celeste ilumina a nossa. Não com sábias definições, mas com imagens. Belíssimas! Que evocam o mistério, especialmente os mistérios trinitário e eucarístico. Imagens que convidam à viagem da fé cristã.

   Entretanto, não se pode tomar ao pé da letra todas as suas declarações a respeito de visões ou mensagens: nada disso poderia ser filmado por uma câmera oculta ou gravado em fita magnética. Na verdade, não se trata de audições concretas ou de visões físicas, e sim- ela mesma o afirma- de intuições místicas, bem reais, todavia, que a deslumbram. Com sinceridade e humildemente, ela tenta prestar contas disso com palavras do dia-a-dia e imagens próprias suas. Revela-nos assim seu diálogo interior com Cristo, especialmente na hora da comunhão diária.  

   Consequentemente, Maria Celeste não escreve palavra por palavra, como se copiasse um ditado do Senhor, mas procura, com humildade e com amor, traduzir em sua linguagem de mulher aquilo que o Senhor lhe revela. Ela ouve, depois escreve. E isso é extraordinário, porque Maria Celeste não é uma teóloga, mas uma napolitana de coração ardente. Amante do Cristo desde a infância, ela nos faz confidências sobre seu amor apaixonado pelo Senhor. Há, sob sua pena, não menos de noventa vezes, a expressão "a ternura de Deus", e mais de 550 vezes a palavra "amor".

(Orar 15 dias com Maria Celeste)




(Próximo tema: Uma mística para nossos dias, NÃO PERCAM!)

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