sexta-feira, 1 de junho de 2018

A mãe de uma multidão...



Certa manhã, após a comunhão.... com minha alma toda absorta em silêncio, o Senhor me disse: “Desejo que você seja a mãe de uma multidão de almas, que quero salvar por seu intermédio...”(L, cap. XIV)

Para Maria Celeste, a eucaristia não é só o sacramento pelo qual Jesus, como no Lava-pés, lhe oferece o perdão de seus pecados: “Eu lavarei e purificarei você de todas as suas faltas”. É, sobretudo, o sacramento dos esponsais com o Cristo, de sua união à paixão e ressurreição do Salvador, como também o sacramento do Pentecostes, isto é, da fecundidade apostólica, da maternidade espiritual. “Quero que você seja a mãe de uma multidão. ” Essas palavras de Jesus após a comunhão marcaram-na por toda sua vida. Um século depois, Teresa do Menino Jesus expressará semelhante convicção na sua autobiografia (história de uma alma): “ser tua esposa, ó Jesus... ser, pela minha união contigo, a mãe das almas”(oeuvres completes, Cerf, 1922, p. 224).

Em seu diálogo com Maria Celeste, Cristo assegura-lhe que ela colaborará nessa obra do Salvador, que será um sucesso: “uma multidão! ” Ela se sente animada, mas sabe muito bem que será doloroso esse parto. Doloroso, mas fecundo, pois não será apenas o resultado de seus esforços, mas também o fruto do trabalho apostólico de sua comunidade, da Igreja, e sobretudo do próprio Senhor, que está presente nela e com ela trabalha.
Jesus, uma manhã, convida-a a se deixar abrasar pelo fogo do amor que o consome por todas as almas que ele quer salvar:

“Esta manhã, desejei você de maneira especial em meu coração. Esperei-a com impaciência, para que, em mim, você espose todas as almas, aquelas que fazem parte da Igreja e aquelas que ainda não estão no meu rebanho. Quero que tenha por elas o mesmo amor pelo qual eu as amo apaixonadamente. Quando estava no mundo, eu pensava mais nelas que em mim mesmo. Assim, não pense mais em você, mas na salvação dessas almas que eu tanto amo” (L, Segundo Diálogo)

Evocando a imagem do golfinho, Jesus insiste nesse ponto:

“Você é para mim como o golfinho, esse amigo do pescador que o acompanha sempre e atrai outros peixes para suas redes. Também você, amiga dileta, esteja sempre comigo com amorosa simpatia e conduza as almas para as redes da minha graça” (L, Segundo Diálogo).

Maria Celeste não era senão um com seu Senhor. Sua comunhão não se separa de sua missão. E sua missão pessoal é a fundação de um novo instituto religioso. Essa fundação aconteceu em Scala, a 13 de maio de 1731, num dia de Pentecostes. Depois do fracasso de Scala, é numa segunda-feira de Pentecostes, em 25 de maio de 1733, que começa uma nova etapa dessa fundação; e mais uma vez no dia de Pentecostes só em 1738, em Foggia, Maria Celeste conhecerá a felicidade de uma fundação definitiva.
O lema escolhido, desde a origem, para os redentoristas e as redentoristas: “Copiosa apud eum redemptio- Com ele (Jesus) é abundante a redenção”, enaltece o arroubo missionário e a fé no futuro. Dessa forma, numa época em que se pregava frequentemente “o pequeno número dos eleitos”, Maria Celeste e Afonso estavam convencidos de que a salvação trazida por Jesus não estava fadada a um fracasso, mas a um sucesso extraordinário. Inimaginável.

E nós, hoje?

Quando nós rezamos, e sobretudo quando participamos da eucaristia, somos conscientes de que nossa oração é a principal fonte de nosso apostolado? É por isso que é preciso “pedir ao Senhor da messe”(cf. Mt 9, 30; Lc 10, 2) para que haja operários e operárias para a colheita.
Temos perfeita compreensão de que, se somos cristãos, não é para buscar a nossa salvação, mas para primeiro salvar os homens e mulheres de nosso tempo, na comunidade da Igreja, isso é, com Jesus Salvador?
Quando compreenderemos que é o Senhor o principal obreiro de nosso apostolado? E que nós, nós não somos senão a terra que recebe a semente, mas uma terra de acolhimento, indispensável?
A nós compete, pois, aceitar servir, cooperar generosamente, alegremente, como Maria Celeste, que foi a “a mãe de uma multidão de almas”, para seu tempo e para o futuro.


𝓞𝓻𝓮𝓶𝓸𝓼 𝓬𝓸𝓶 𝓜𝓪𝓻𝓲𝓪 𝓒𝓮𝓵𝓮𝓼𝓽𝓮

Ò divino Pai...
Tua palavra,
Como uma flecha de fogo,
Transpassa minha alma
Para fazê-la desfalecer todos os dias de minha vida
Em teu divino amor!
Tu me dizes que me queres como ardente
Tocha
A brilhar sempre diante de ti
Para iluminar muitas almas .
Como, porém, eu poderia,
Sendo que para mim mesma não sou senão
Trevas?
Serei tocha e até o sol,
Se permaneceres sempre unido a meu coração.
Eu te suplico,
Por tua divina misericórdia,
Que assim seja (ES, Huitième jour)


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