segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Festa da Apresentação do Senhor no templo

Hoje dia que a Igreja comemora a festa da Apresentação do Senhor e celebra o dia da Vida Consagrada queremos compartilhar com todos os leitores de nosso Blog um texto da série de Jean-Marie Ségalen, sobre nossa Fundadora.




Agora!...

Eu fico. Agora!...(R. p. 235)


Em sua notavel obra "Afonso de Ligório, uma opção pelos abandonados", Th. Rey-Mermet apresenta assim Maria Celeste:

   "Manhã de primavera de 1718. A carruagem de José Crostarosa, advogado lotado em Nápoles, corre ao sol pelas planícies de Nola. Na neblina azulada, que se dissipa entre as árvores em flor, quatro senhoras se dirigem a Marigliano, distante 20 Km da capital: a senhora Paula Battista Crostarosa, uma sua amiga e duas de suas filhas : Úrsula, com trinta anos e Júlia, a futura irmã Maria Celeste, que tem então por volta de vinte anos. Vão para uma visita à irmã Veridiana de Jesus, priora do conservátorio carmelita de Marigliano(....)

   No carmelo, a acolhida é a mais calorosa possível. alegre, a conversa.

   Lá pelo meio da conversa, a priora teve a inspiração de dirigir a Júlia esta intrigante pergunta:

   -E você, que espera para se doar ao Senhor? Não gostaria de ficar hoje mesmo conosco neste mosteiro?
   A Resposta veio instantânea, flamejante:
   -eu fico. Agora!... "


   Agora!... Nessa resposta está todo o temperamento de Maria Celeste: chama viva de amor e generosa impetuosidade; liberdade de espírito e vontade férrea; firmeza de caráter e rapidez de decisão; paixão pelo Cristo e dom total, alegre, sem medida.

   Ela fica. E inflamado debate se desenrola então entre ela e a mãe. Malgrado as objeções desta, que alega que seu pai não está a par da decisão, Maria Celeste retruca dizendo que se seu pai recusa, elas voltarão para casa, mas ela está convencida de que ele dará sua aprovação e pagará o dote requerido pelo mosteiro. É o que de fato acontece.

   Maria Celeste nasceu no coração de Nápoles, em 31 de outubro de 1696, trinta e quatro dias depois de Afonso de Ligório e no mesmo bairro. Era o mês das rosas. Seu nome de família- "Crosta-rosa": Rosa de fogo- lembrava que ela veio ao mundo envolta pelos aromas do outono, que fazem o poeta exclamar: "Recende a ouro, açafrão e cobre..."

   Ela é a décima filha da família. Raio de sol por sua vivacidade e bom humor, é querida de todos . E, no entanto, recolhida: por volta dos cinco ou seis anos, ela inicia a experiência de uma vida mística precoce e extraordinária. Ao redor dos onze anos, começa a comungar. Pelos quinze, seu confessor a autoriza a comungar todos os dias. Autorização inusitada numa época em que se comungava raramente. A eucaristia se torna desde então o tempo forte de sua oração diária e o centro de sua vida espiritual. Aos dezessete anos, com a aprovação de seu confessor, consagra-se a Deus fazendo o voto de castidade.

   Ela está nessa época no carmelo de Marigliano. Mas não aceita uma vida religiosa pela metade. Tendo constatado certo relaxamento, reage pronta e vigorosamente junto à superiora:

                                     Se a senhora não tomar providências contra esse  relaxamento, jamais farei profissão neste  convento...(R, p. 236).


   A Priora a atende, e, a 21 de novembro de 1719, na festa da Apresentação de Maria no templo, Maria Celeste faz a profissão, toda feliz por ser “aceita como filha por Maria”(A, cap. IX).

   Seis meses depois de sua profissão religiosa, Maria Celeste é nomeada mestra de noviças. Esse cargo inflama seu zelo. Falando de si mesma, escreverá mais tarde:

                                           Sobrevém-lhe (a Maria Celeste) grande fome de ajudar o próximo a amar com fervor a Deus (R, p. 236).

   Mas logo o carmelo é fechado por ordem do bispo e para escapar aos desmandos da proprietária das terras. Foi preciso então procurar uma solução para permanecer fiel a sua consagração ao Senhor. É quando ela entra para as Visitandinas de Scala, a conselho do padre Falcoia. Nesse novo mosteiro, Deus irá revelar-lhe um tipo de vida religiosa que ele pretende propor, por meio dela, a homens e mulheres de seu tempo e de séculos futuros. Essa revelação se dará durante a ação de graças, depois da comunhão, um tempo forte, todos os dias, de sua espiritualidade.

   Em 1718, ao ser perguntada pela Priora do carmelo de Marigliano, Maria Celeste havia respondido: “Sim, agora!” Hoje, ela não somente aceita continuar a responder “sim” ao Senhor, mas se empenha  em um “sim” que será longo, difícil e doloroso como a paixão de Jesus, mas que lhe trará a felicidade e a paz de páscoa. Ela se empenha em fazer apelos aos homens e mulheres de seu tempo e de tempos vindouros para viverem o novo tipo de vida religiosa que o Senhor lhe revela na hora da eucaristia; apelo a fazer ver o Cristo em seu mistério pascal por meio de uma vida religiosa pessoal e comunitária; apelo a continuar dessa forma a a missão de Jesus Salvador no mundo todo e ao longo dos séculos.

E nós, hoje?

   Os primeiros momentos da oração de Maria Celeste destinavam-se a escutar Deus. Será que nós empregamos tempo em escutar Deus?

   Além disso, quando sentimos um chamado do Senhor, respondemos “sim”, prontamente, como Pedro ao abandonar suas redes e seu barco de pesca? “sim”, como Mateus deixando seu balcão de cobrador de impostos? “Sim, agora”, como Maria Celeste renunciando o conforto do palácio de seus pais?

   Compreendemos que Deus não exige êxito apostólico imediato, agora, mas fidelidade a seu amor, seja lá quanto isso custe?

   Mais: nosso “sim” é não apenas generoso, ardente, paciente, fiel, mas também um “sim” alegre, com cores de páscoa?

   Por fim, compreendemos que nosso “sim” ao Senhor não tem como meta primeira fazer-nos campeões em virtudes, mas nos dar, “uma grande fome de ajudar o próximo”, de partilhar nossa fé, nossa bondade, o amor que o Senhor nos dá, amor que descobrimos por meio de sua Palavra, seus sacramentos, principalmente a eucaristia?



Oremos com Maria Celeste

No dia de sua profissão religiosa, Maria Celeste confirmou seu “Sim, agora!” ao Senhor, cantando este canto que compusera certa ocasião:


Eis a hora tão esperada
Em que Deus me desposou.
Plenamente consolada,
Nele, que é meu amor,
Repousarei.

Sim, estou muito contente,
Saciou-se meu desejo;
Gozarei o meu Esposo
Por toda a eternidade.

Aqui estarei desejando
 Usufruir de meu amante,
Servi-lo, a ele satisfazer
E possuí-lo eternamente.

Irei, depois
Meu Bem-amado,
Ver-te lá em cima, no céu;
Lá, para sempre possuirei
Esse Esposo que me amou (L, cap. IX)



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