Eu Lavarei e Purificarei
você de Todas as suas Faltas
Maria Celeste havia acabado de receber a santa hóstia, e Nosso Senhor se lhe mostrou com o lado aberto. Colocou-a em seu divino coração e lhe disse: "Entre nesta chaga, e eu lavarei e purificarei você de todas as suas faltas". Ao ouvir essas palavras, ela sentiu, em inexprimível doçura, toda limpa e pura. E o Senhor lhe disse ainda que lhe havia perdoado todos os pecados. Depois disso, ela chorou muito, mas com a alma cheia de doces sentimentos, ao que se seguiu um profundo recolhimento. Isso durou várias horas (L, cap. III).
Eu lavarei você...É Jesus quem fala.
O mesmo Jesus que na tarde da Quinta-feira Santa lavou os pés de seus
discípulos. Todos eram pecadores, como também Maria Celeste. Na hora da
comunhão, acolhe o perdão que a purifica. Ela não fez cursos de teologia sobre
os sacramentos ou sobre o mistério pascal, mas ela encontrou Jesus. E Ele se
revela a ela, que se deixa transformar por ele; antes, porém, ela se deixa
lavar e purificar por meio dessa união com ele. Tanto que Jesus aproveitou o
tempo para explicar isso para ela:
Esta purificação íntima eu a opero de maneira muito particular na união que se segue à comunhão sacramental, pela qual realmente você se transforma em mim. É uma união de infinitas particularidades que, em plenitude, você nunca poderá compreender. No tempo que vivi aqui na terra, bastava o toque em minhas vestes para curar os doentes; um só olhar que humildes e pecadores me dirigiam obtinha o perdão da falta e da pena de seus pecados. como, depois disso, cada vez mais que eu entro na íntimo de almas queridas, que em seguida à minha vinda suspiram com humildade e amor para se unirem a mim e não fazer senão um espírito comigo, como poderia eu admiti-las ao beijo de minha boca, sem antes purificá-las no fogo de minha caridade? Esse fogo divino consome as manchas involuntárias contraídas por fragilidade. É por isso que, quando me recebe sacramentalmente, você deve desejar revestir-se da veste batismal, lavada em meu sangue, no meu coração (L, Segundo Diálogo)
União de amor com o Cristo,
purificação por amor, transformação no amor, essas são as características da
comunhão da qual Maria Celeste, maravilhada, faz a experiência todos os dias
De todos os momentos de minha vida, os
mais preciosos são os da comunhão sacramental...O Senhor começou, na santa
comunhão, a me fazer sentir uma transformação de mim mesma em Jesus. Naqueles
momentos, envolta por uma luz divina, todas as virtudes da santíssima vida de
Nosso Senhor Jesus Cristo eram impressas em mim, e nisso minha alma
experimentava um sentimento de plenitude e de infinita alegria (F, n. 69).
O que o papa falou recentemente,
Maria Celeste já o experimentara em vida. A seu modo, ela mesma o explica:
Jesus, para nos transformar nele mesmo, inventou a eucaristia:
Seu divino amor inventou
uma...invenção divina. A mais surpreendente, a mais admirável, invenção que
nossa mente jamais conseguiria naturalmente conceber. Quem poderá falar dessa
humilhação, desse aniquilamento, uma vez que se trata da mais inexplicável delicadeza
de seu divino amor: humilhar-se e fazer-se a comida substancial, real e divina
do homem! Jesus fez isso com o unico objetivo de transformar o homem em Deus e
de lhe comunicar suas divinas perfeições (S, pp.40-41, Déclaration de l'esprit
de l'Institut).
No século do jansenismo, do
rigorismo sob todas as formas (erros que seu amigo Afonso combaterá a vida
inteira), esse texto é audacioso e, entretanto, profundamente verdadeiro. Maria
Celeste volta frequentemente a esse tema da transformação da pessoa que
comunga. Para ela, é o começo maravilhoso de sua divinização:
Não acontece aqui como com os
alimentos naturais com os quais nos alimentamos, que se transformam em nossa
substância. Este alimento celeste e espiritual faz que nós nos transformemos e
nos convertamos em sua divina substância. Por seu próprio divino poder, ele nos
transforma nele mesmo (S, p. 41, Jardin intérieur, 4 juin).
Maria Celeste, porém, não é ingênua.
Não ignora que há celebrações eucarísticas pobres, comunhões distraídas e sem valor,
porque feitas sem "fé viva". com firmeza, ela estimula quem comunga a
reavivar sua fé nesse Deus amor que vem a seu encontro:
Nem todas as almas fazem a experiência
desses efeitos. Apenas aquelas que crêem com uma fé viva...Vemos todos os dias
muitas almas se aproximarem da mesa eucarística. Grande número dessas almas até
se alimenta com frequÊncia do Pão sobrenatural. Poucas, no entanto, seguem os
caminhos do Senhor (S, p. 42, Jardin intérieur, 3 juin).
Ou
seja, Maria Celeste exorta vigorosamente as Monjas de sua Ordem e os cristãos
de todos os tempos a se unirem ao Senhor com fé e coragem, pois a eucaristia
nos transforma individualmente, transforma-nos para nos ajudar a transformar o
mundo. Para ela, ninguém comunga só para si, mas para cooperar com Jesus
Salvador na redenção dos homens. Já desde os quartoze anos não lhe havia o
Senhor lançado esse apelo?
Você deve imitar minha vida e
trabalhar unida a minhas obras (S, p. 43).
E
nós, hoje?
Quando nós rezamos e sobretudo
quando celebramos a eucaristia, compreendemos que o Senhor nos oferece seu
perdão? Ele no-lo oferece antes que o peçamos. A nós, como a Maria Celeste, ele
não cessa de prometer: "Eu lavarei e purificarei você de todas as suas
faltas". Mas espera nosso propósito sincero: arrependimento e desejo de
conversão. Estamos conscientes de nossas falhas e sequiosos por acolher o
perdão de Deus?
Durante a celebração da eucaristia,
contentamo-nos em ser espectadores de uma liturgia sagrada ou somos
celebrantes? Celebrantes que se nutrem da Palavra de Deus? Celebrantes que se
deixam transformar por esse alimento substancial, Pão da Vida, Verbo de Deus?
Celebrantes que se deixam divinizar pelo corpo glorificado do Cristo?
Celebrantes felizes por continuar a missão de Jesus Salvador, sendo testemunhas
do Evangelho no mundo de hoje?
Oremos
com Maria Celeste
Ó Verbo de
infinita sabedoria,
quando te
seguirá meu coração?
Vejo-me
sem palavras diante de ti,
coberta de
confusão,
e o melhor
para mim é me calar em tua presença.
Condenas
minha ignorância,
não para
me confundir, mas para me salvar.
Sou como a
serpente, que vive se arrastando
pelo chão,
ou como o
largato, que deixa sua toca para
esquentar-se
ao sol.
Prendo-me
assim às coisas terrenas
e excito
minhas paixões e más inclinações
ao calor
de meu indomado amor-próprio.
Para me
curar de minhas feridas,
ó Senhor
de minha alma,
cumulaste-me
de dádivas sem conta!
(L, Quarto Diálogo).
(L, Quarto Diálogo).
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