quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Orar 15 dias com Maria Celeste Crostarosa

Continuando nosso momento de espiritualidade, compartilhamos o quinto dia de meditação com nossa Mãe fundadora Maria Celeste Crostarosa.


Eu Lavarei e Purificarei você de Todas as suas Faltas



Maria Celeste havia acabado de receber a santa hóstia, e Nosso Senhor se lhe mostrou com o lado aberto. Colocou-a em seu divino coração e lhe disse: "Entre nesta chaga, e eu lavarei e purificarei você de todas as suas faltas". Ao ouvir essas palavras, ela sentiu, em inexprimível doçura, toda limpa e pura. E o Senhor lhe disse ainda que lhe havia perdoado todos os pecados. Depois disso, ela chorou muito, mas com a alma cheia de doces sentimentos, ao que se seguiu um profundo recolhimento. Isso durou várias horas (L, cap. III).




            Eu lavarei você...É Jesus quem fala. O mesmo Jesus que na tarde da Quinta-feira Santa lavou os pés de seus discípulos. Todos eram pecadores, como também Maria Celeste. Na hora da comunhão, acolhe o perdão que a purifica. Ela não fez cursos de teologia sobre os sacramentos ou sobre o mistério pascal, mas ela encontrou Jesus. E Ele se revela a ela, que se deixa transformar por ele; antes, porém, ela se deixa lavar e purificar por meio dessa união com ele. Tanto que Jesus aproveitou o tempo para explicar isso para ela:

Esta purificação íntima eu a opero de maneira muito particular na união que se segue à comunhão sacramental, pela qual realmente você se transforma em mim. É uma união de infinitas particularidades que, em plenitude, você nunca poderá compreender. No tempo que vivi aqui na terra, bastava o toque em minhas vestes para curar os doentes; um só olhar que humildes e pecadores me dirigiam obtinha o perdão da falta e da pena de seus pecados. como, depois disso, cada vez mais que eu entro na íntimo de almas queridas, que em seguida à minha vinda suspiram com humildade e amor para se unirem a mim e não fazer senão um espírito comigo, como poderia eu admiti-las ao beijo de minha boca, sem antes purificá-las no fogo de minha caridade? Esse fogo divino consome as manchas involuntárias contraídas por fragilidade. É por isso que, quando me recebe sacramentalmente, você deve desejar revestir-se da veste batismal, lavada em meu sangue, no meu coração (L, Segundo Diálogo)

            União de amor com o Cristo, purificação por amor, transformação no amor, essas são as características da comunhão da qual Maria Celeste, maravilhada, faz a experiência todos os dias
De todos os momentos de minha vida, os mais preciosos são os da comunhão sacramental...O Senhor começou, na santa comunhão, a me fazer sentir uma transformação de mim mesma em Jesus. Naqueles momentos, envolta por uma luz divina, todas as virtudes da santíssima vida de Nosso Senhor Jesus Cristo eram impressas em mim, e nisso minha alma experimentava um sentimento de plenitude e de infinita alegria (F, n. 69).

           
Por ocasião do Ano Eucarístico de 2005, João Paulo II convidou o povo cristão a redescobrir o sacramento da eucaristia e, ao mesmo tempo, a humildade do Senhor: "Na eucaristia... a glória de Cristo está velada. O Sacramento da eucaristia é o mistério da fé por excelência. É , pois, precisamente pelo mistério de seu ocultamento total que o Cristo se faz mistério luminoso, graças ao qual quem crê é introduzido na profundeza da vida divina. Não é senão por uma feliz intuição que o célebre ícone da Trindade de Roublev, ostenta de maneira significativa a eucaristia no centro da vida trinitária"(Mane nobiscum Domine, n. 11)

            O que o papa falou recentemente, Maria Celeste já o experimentara em vida. A seu modo, ela mesma o explica: Jesus, para nos transformar nele mesmo, inventou a eucaristia:

Seu divino amor inventou uma...invenção divina. A mais surpreendente, a mais admirável, invenção que nossa mente jamais conseguiria naturalmente conceber. Quem poderá falar dessa humilhação, desse aniquilamento, uma vez que se trata da mais inexplicável delicadeza de seu divino amor: humilhar-se e fazer-se a comida substancial, real e divina do homem! Jesus fez isso com o unico objetivo de transformar o homem em Deus e de lhe comunicar suas divinas perfeições (S, pp.40-41, Déclaration de l'esprit de l'Institut).


            No século do jansenismo, do rigorismo sob todas as formas (erros que seu amigo Afonso combaterá a vida inteira), esse texto é audacioso e, entretanto, profundamente verdadeiro. Maria Celeste volta frequentemente a esse tema da transformação da pessoa que comunga. Para ela, é o começo maravilhoso de sua divinização:


Não acontece aqui como com os alimentos naturais com os quais nos alimentamos, que se transformam em nossa substância. Este alimento celeste e espiritual faz que nós nos transformemos e nos convertamos em sua divina substância. Por seu próprio divino poder, ele nos transforma nele mesmo (S, p. 41, Jardin intérieur, 4 juin).


            Maria Celeste, porém, não é ingênua. Não ignora que há celebrações eucarísticas pobres, comunhões distraídas e sem valor, porque feitas sem "fé viva". com firmeza, ela estimula quem comunga a reavivar sua fé nesse Deus amor que vem a seu encontro:


Nem todas as almas fazem a experiência desses efeitos. Apenas aquelas que crêem com uma fé viva...Vemos todos os dias muitas almas se aproximarem da mesa eucarística. Grande número dessas almas até se alimenta com frequÊncia do Pão sobrenatural. Poucas, no entanto, seguem os caminhos do Senhor (S, p. 42, Jardin intérieur, 3 juin).


Ou seja, Maria Celeste exorta vigorosamente as Monjas de sua Ordem e os cristãos de todos os tempos a se unirem ao Senhor com fé e coragem, pois a eucaristia nos transforma individualmente, transforma-nos para nos ajudar a transformar o mundo. Para ela, ninguém comunga só para si, mas para cooperar com Jesus Salvador na redenção dos homens. Já desde os quartoze anos não lhe havia o Senhor lançado esse apelo?


Você deve imitar minha vida e trabalhar unida a minhas obras (S, p. 43).


E nós, hoje?


            Quando nós rezamos e sobretudo quando celebramos a eucaristia, compreendemos que o Senhor nos oferece seu perdão? Ele no-lo oferece antes que o peçamos. A nós, como a Maria Celeste, ele não cessa de prometer: "Eu lavarei e purificarei você de todas as suas faltas". Mas espera nosso propósito sincero: arrependimento e desejo de conversão. Estamos conscientes de nossas falhas e sequiosos por acolher o perdão de Deus?
            Durante a celebração da eucaristia, contentamo-nos em ser espectadores de uma liturgia sagrada ou somos celebrantes? Celebrantes que se nutrem da Palavra de Deus? Celebrantes que se deixam transformar por esse alimento substancial, Pão da Vida, Verbo de Deus? Celebrantes que se deixam divinizar pelo corpo glorificado do Cristo? Celebrantes felizes por continuar a missão de Jesus Salvador, sendo testemunhas do Evangelho no mundo de hoje?

Oremos com Maria Celeste

Ó Verbo de infinita sabedoria,
quando te seguirá meu coração?
Vejo-me sem palavras diante de ti,
coberta de confusão,
e o melhor para mim é me calar em tua presença.
Condenas minha ignorância,
não para me confundir, mas para me salvar.
Sou como a serpente, que vive se arrastando
pelo chão,
ou como o largato, que deixa sua toca para
esquentar-se ao sol.
Prendo-me assim às coisas terrenas
e excito minhas paixões e más inclinações
ao calor de meu indomado amor-próprio.
Para me curar de minhas feridas,
ó Senhor de minha alma,
cumulaste-me de dádivas sem conta!
(L, Quarto Diálogo).


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