RETRATOS VIVOS DE MEU
FILHO...
Para que minhas criaturas guardem a
lembrança desse amor eterno com que as amei, desejei escolher este Instituto, a
fim de que seja para o mundo inteiro uma Memória viva de tudo o que meu Filho
se pôs a fazer pela salvação da humanidade, durante os trinta e três anos que
viveu e caminhou como homem pelo mundo...Gravem, pois, sua vida em suas almas,
assim como sua verdadeira imagem e lembrança. Sejam sobre a terra retratos
autênticos e bem vivos de meu Filho bem - amado. È ele o único líder e único
Rei de vocês! (F-M, n. 1 Règles, But et Idée).
Retratos vivos de meu Filho...Uma
Memória viva de tudo o que meu filho fez... Essas palavras figuram na primeira
página das Regras do novo Instituto e aparecem muitas vezes nos escritos
referentes à fundação, revelando um aspecto inovador da imitação do Cristo.
Numa época em que a maioria das pessoas considerava essa imitação como um
simples copiar as virtudes de Jesus, Maria Celeste insiste nas raízes
evangélicas e no caráter global dessa imitação.
Em outras palavras, para ela não se
trata tanto de copiar, uma a uma, as virtudes do Cristo, e sim de se impregnar
de sua maneira de ser e de agir, de se fazer um com Ele, de a Ele se unir para
que nos transforme a ponto de fazermos ver seu rosto, entender sua mensagem,
sentir seu amor, e nos tornar assim "uma viva memória do Filho do eterno
Pai".
Além disso, para Maria Celeste, essa
imitação não deev ser individual, mas comunitária. Trata-se de, a um tempo, em
Igreja, fazer ver o Cristo e descobrir seu amor para salvar todos os homens. Ou
seja, não é para se fugir do mundo, mas para salvá-lo. Assim, num tempo em que muitos
entravam para a vida religiosa procurando sua santificação pessoal, Maria
Celeste faz ver que se deve entrar para a vida religiosa primeiro para
evangelizar o mundo, como o lembrará alguns séculos depois o Concílio Vaticano
II. É a essa imitação que Jesus chama sem cessar Maria Celeste
Minha filha, eu serei luz para sua
conduta, e sua alma nutrirá do alimento da vida eterna, alimento oculto durante
a vida que aqui vivi. Este há de ser o espírito de seu Instituto: minha memória
e minha imitação, tudo como se eu vivesse entre vocês. Portanto, agora, minha
filha, ordeno que escreva algo sobre minha pessoa, para que se possa conhecer
tudo o que você recebeu de luzes e benefícios
desta fonte que sou eu... Onde estão os fundamentos sobre os quais se apóiam as
Regras que vocês adotaram? Tudo repousa sobre minha vida, sobre a humildade e
sobre a caridade (L, cap. III).
O essencial da espiritualidade de
Maria Celeste é o Evangelho, a Boa Nova do Deus Amor. Para isso é preciso
contemplar o Cristo. Ele revela o verdadeiro rosto de Deus, Pai e Mãe a um
tempo, infinitamente pródigo de amor para conosco, desejoso de a todos perdoar
e de promover o crescimento de todos, sobretudo dos mais humildes e mais
pobres. Maria Celeste se lembra de confidências que lhe fez Jesus a esse
respeito:
Já desde minha vinda ao mundo, eu
detestava em você tudo o que você amava e que eu não podia amar por se opor a
mim. Desde que cheguei, detestava as honrarias dos homens. Eu nasci num
estábulo, pobre e desconhecido; fui expulso, posto para fugir e perseguido
pelos homens; vivendo em extrema pobreza, odiei as riquezas. Eu era o último
dos homens, sem casa,perseguido, amaldiçoado por todos. Amava a abjeção, dava
minha preferência aos pobres, aos simples, aos ignorantes, aos pecadores, e
conservava com eles. Para Fugir às honrarias que os homens tanto estimam,
ocultei minha divindade por um milagre do Todo- poderoso. Para condenar o apego
ao bem- estar e ao conforto, eu me alimentava e me vestia pobremente, abraçando
todos os incômodos, andando descalço em minhas longas viagens, suportando as
intempéries e o ardor do sol, para a glória de meu Pai e a salvação das almas.
Como recompensa por meus inúmeros milagres e benefícios, os homens prepararam
para mim uma cruz, espinhos, chicotadas, cravos e fel. Zombaram de mim! Fui
injuriado, blasfemado, amaldiçoado, castigado e carregado de dores, sem alívio
nem consolo. Meu abandono e meu aniquilamento foram totais quando, sobre a
cruz, entreguei o espírito, não sem antes ter rogado e lançado um olhar de
misericórdia sobre todos os que me haviam ofendido e levado à morte. Veja
quanto eu amava e abraçava o que você detesta e abomina, e quanto condenava o
que você tinha amado! (L, Oitavo diálogo)
Maria Celeste fica transtornada com
essa confidência. E descobre que ninguém há mais humilde que Deus: para nos
revelar seu amor, o Senhor quis passar pelo aniquilamento e pela morte. Ela
quer segui-lo e nos convida a tomar o mesmo caminho. Mas, como bem diz Sabatino
Majorano, não devemos, colocar o acento "sobre exemplos de Cristo, e sim sobre o seu exemplo".
Disso estava convencida Maria Celeste. em todos os seus escritos, ela fala
disso. Trata-se, para ela, de fazer uma união de vida com Jesus, principalmente
na hora da eucaristia:
Em dado momento, ela (a
alma em oração) entra nele pelo amor e se une a todas as suas fadigas e
alegrias, e se vê, ao mesmo tempo, cumulada de extrema felicidade amorosa e
toda cercada de dores e sofrimentos, à semelhança desse modelo que nela se
imprime como um sinete na cera derretida... Dá-se esse tipo de oração
geralmente na ação de graças após a comunhão; a alma, no entanto, fica sob sua influência
até a comunhão do dia seguinte. Com freqüência o Senhor se compraz em renovar
esse favor muitos dias seguidos (L, Degrau Décimo Primeiro).
Esta
intuição do mistério pascal, na vida e nos escritos de Maria Celeste, nós a
encontramos na exortação apostólica de João Paulo II, de 25 de março de 1996,
sobre a vida consagrada: "A vida consagrada constitui verdadeiramente uma memória
viva da maneira de viver e de agir de Jesus enquanto Verbo encarnado diante do
PAi e diante dos homens"(Vie Consacrée, n. 22).
E nós, hoje?
Quando
rezamos, nossa oração se dirige a um grande personagem, de infinita majestade,
como aos grandes deste mundo, ou ao Deus do Evangelho, o Deus humilde?
Seguindo
Inácio de Antioquia, Irineu e os padre da Igreja, Maria Celeste acreditava que
"Deus se fez homem, para que o homem pudesse tornar-se Deus". Será
que acreditamos nesse "plano do Pai", a divinização do homem?
Compreendemos
bem que o chamado de Deus Pai para que sejamos "retratos vivos de seu
Filho" não se destina apenas a freiras e religiosos, mas a todos os
cristãos? Todos somos chamados a ser "retratos vivos de Cristo" e
"memória viva de tudo o que ele fez". Por quê? Porque as pessoas que
nos rodeiam não irão, em sua grande maioria, ouvir ou ler os quatro evangelhos
do Novo Testamento, mas serão numerosos os que aceitarão ler o "quinto
evangelho", aquele que nós escrevemos, dia a dia, individual e
comunitariamente, com nossas palavras, com nossos atos, com nossa vida.
Peçamos, pois, ao Senhor que envie seu Espírito, para que nosso "quinto
evangelho" seja de acordo com o Evangelho de Jesus, aquele que ele
escreveu ao longo dos trinta e três anos de sua vida terrena.
Oremos
com Maria Celeste
Pai Santo,
tu me amaste com predileção.
Consagraste-me a reviver teu amor
sobre os passos do Cristo Redentor,
que me pede morrer a tudo o que não é
virtude e bem.
Derrama sobre mim teu Espírito,
e faze que por seus dons
eu possa crescer e me empenhar
em tudo o que devo fazer a teu serviço,
pelo mundo e pela Igreja...
Reveste-me de tua beleza, Senhor,
para que consiga te revelar a todos.
Assim, que todos os que se aproximarem
sintam tua presença
e tenham confiança, luz e segurança em ti
somente.
Eu me confio a ti,
em ti me abandono.
Amém (VM, n. 20, p. 15)
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