Como é Bela a Morte quando se
viveu bem! Morrendo para esta vida, já na própria morte encontra-se a vida...
para as almas justas, morrer é adormecer na paz... (a alma justa) está à espera
da hora marcada. Eis chegada a hora: para uma alma que ama, não há notícia mais
alegre e feliz, porque, para ela, o combate está terminado; porque tudo o que
ela deixa, na realidade ela já o havia abandonado há muito tempo... Mas a maior
de todas as alegrias é a de poder em breve possuir seu Bem-amado, que ao longo
de toda a sua vida nela viveu aqui na terra, isto é, ao longo de toda a sua
morte para o mundo. Esse amor no qual ela viveu, e foi crescendo e amadurecendo
sempre, a morte lhe dará a posse dele na verdadeira vida.... Observe, então,
minha filha, como é bela a morte quando se vive morrendo! (F-M, n. 141, Exercices
spirituels de decembre, méditation 11).
Como é bela a
morte! .... Estas palavras são palavras de amor. Maria Celeste é uma mulher
que arde de amor pelo Senhor. A morte de que fala, ela a viveu durante toda a sua
vida de nômade e de fundadora. Além disso, cada eucaristia era para ela ocasião
de partilhar a morte e ressurreição de seu amigo Jesus, pela salvação do mundo.
Assim, ao término de uma vida movimentada marcada por
toda sorte de tempestades, o testemunho de Maria Celeste é um grito de fé e um
canto de esperança. Ela relembra aquela passagem de São João, que gostava de
comentar em seus escritos: “Aquele que existia desde o princípio, aquele que
ouvimos, que vimos com nossos olhos e que nossas mãos tocaram é o Verbo, a
palavra de Vida. Sim, porque a vida se manifestou e nós a vimos e dela damos
testemunho; nós vos anunciamos essa Vida eterna, que existia junto do Pai e se
manifestou a nós. Isso que nós vimos e ouvimos, nós o anunciamos a vós também...”(1Jo
1, 1-3).
Maria Celeste deu e continua dando testemunho dessa vida
de amor de Jesus. Como um eco à palavra dele: “eu vim trazer fogo à terra! ”
ela escutou Jesus dizer-lhe um dia:
Que o amor seja meu alimento
e a chama na qual você se inflame dia e noite, até que se torne fogo! Todo o
seu ser seja um com o fogo, de tal forma ele a queime! E aspire depois que esse
fogo consuma e você se aniquile sob as cinzas da verdadeira humildade. Não
sendo mais você quem vive, continuará por isso vivendo e queimando nessa chama
eterna que arde sem cessar e faz jorrar sua luz por toda a eternidade. Ser
reduzida ao nada da cinza que produz esse fogo divino, estar morta ao mundo, a
toda criatura, a toda coisa terrena, não vive senão de amor até se tornar,
totalmente e sem qualquer diferença, fogo com o Fogo (F-M, n. 33, Exercices
spirituels de decembre, mé ditation 20).
Maria Celeste ardeu nesse fogo de amor até sua derradeira
hora. O que chama a atenção é que deia 14 de setembro de 1755, na festa da
Exaltação da Santa Cruz, nada fazia prever a proximidade de sua morte. No
entanto, lá pelo meio do dia, ela sente suas forças declinarem estranhamente.
Pede que chamem um padre. Tendo começado sua vida religiosa no Carmelo de Marigliano,
a espiritualidade dessa Ordem deixou marcas nela. Ao aproximar-se a morte, ela
se lembra sem dúvida da oração de Teresa d’ Ávila ao agonizar, pois que essa
oração havia inspirado muito de seus escritos:
“Meu queridíssimo Senhor, eis enfim chegada a hora que
tanto esperei. Há bastante tempo nós nos vemos, meu Bem-amado Senhor! Já é hora
de nos colocarmos a caminho. Está tudo combinado. Partamos! Que se faça a tua
vontade.
É chegada a hora de sair deste exilio. É chegada a hora
em que minha alma poderá fartar-se de ti, a quem tanto desejei”
Ela recebe então a unção dos enfermos e a eucaristia como
viático, isto é, como o diz a palavra, como alimento para sua última viagem.
Pede em seguida que o padre leia em voz alta a paixão de
Jesus segundo o evangelho de João. Em silêncio, ela escuta a palavra do
Crucificado: “Tudo está consumado! E inclinando a cabeça, entregou o espírito”
(Jo 19, 30). Nesse momento, Maria Celeste, unida ao sacrifício pascal de seu
amigo, inclina a cabeça e dá o último suspiro. Era por volta das três da tarde.
Uma sexta feira.
Um misterioso perfume, um perfume de rosas, tomou conta
do quarto da morta. Era como que sua assinatura: “Crosta-Rosa”, rosa de fogo!
Era também uma mensagem. A última: o evangelho da rosa. Esse era o evangelho
que Gandhi gostava de apresentar desta maneira: “Deixai, pois, vossa vida nos
falar. A rosa absolutamente não fala, ela se contenta em espargir seu perfume.
E, então, mesmo o cego, sem ver a rosa, sente seu perfume. É este todo o
segredo do evangelho da rosa”.
Este é também o evangelho de Maria Celeste: sua vida e
sua morte nos fazem ver, como por uma transparência, a vida e a morte de Jesus,
a quem ela tanto amou.
(urnas que se encontram as fundadoras desse mosteiro)
Nessa mesma hora, em Materdomini, a uma centena de
quilômetros dali, seu amigo Geraldo, muito doente- ele morrerá no mês
seguinte-, exclama diante do irmão Estevão Sperduto, enfermeiro que o assistia:
“Meu irmão, hoje Maria Celeste voou para o céu, para receber a recompensa de
seu grande amor por Jesus e por Maria”. Um santo, Geraldo Majela, acabava de
“canonizar”, por assim dizer, aquela a quem, já havia anos, o povo chamava “a
santa priora”. É por isso que, nos dias que seguiram à sua morte, o povo de
Foggia e dos arredores fazia vigília em torno de seu caixão, repetindo com
tristeza: “A santa Priora morreu! A santa Priora morreu! ”.
E
nós, hoje?
Quando rezamos, será que pensamos na nossa morte? Será
que pensamos nela como Maria Celeste, não como uma catástrofe, mas como um
encontro com nosso melhor amigo? Como um encontro a ser preparado? A ser
preparado como uma festa?
Maria Celeste havia meditado longamente a paixão e
ressurreição de Jesus, seu amigo, sobretudo na hora da comunhão. Será que
empregamos tempo em refletir na morte sofrida por nosso amigo Jesus, que é,
agora e sempre, o Crucificado-Ressuscitado? Será que aceitamos participar dessa
morte e dessa ressurreição do Cristo, quando participamos da eucaristia?
Somos felizes, como Maria Celeste, por descobrir o quanto
“ a morte é bela”, quando triunfa em nós, na força do Espírito Santo, a vontade
de amor de nosso Pai do Céu, que a todos nos quer salvar e que nos convida, por
isso, em cada eucaristia, a comungar o Cristo morto e ressuscitado?
Oremos
com Maria Celeste
Em vós (Jesus)
Deus Pai me deu a vida.
Ó morte preciosíssima,
Que me ressuscitou para a vida!
Sim, meu Amor, Verbo bem-amado de
Deus,
Vós dais assim a vida àqueles a quem quereis fazer viver.
Mas Deus Pai não vos ressuscitou
Antes que houvésseis padecido
Vossa dolorosíssima morte.
Da mesma forma, vós não realizais na alma
Essa preciosa ressurreição,
Se a almanão começa por morrer, ao longo de toda a vida,
Em seus sentimentos interiores e exteriores,
Na vossa morte,
Para daí ressuscitar para uma vida nova de
Amor,
Em vós, o Verbo de Deus,
Vida de todas as coisas.
(F-M, n. 131, Exercise d’ amour pour chaque jour, 4
avril).
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