A folha de irmã Maria Celeste não chegou até nós na sua versão original. Conhecemos somente a síntese que, cerca de vinte anos mais tarde, ela redigirá na sua Autobiografia (escrita em Foggia, provavelmente entre 1750-1755; cfr. Majorano o. c. 129-130). No dia 4 de outubro de 1731, festa de São Francisco:
"Sua
alma foi novamente surpreendida por uma claridade e uma luz no Senhor,
entendendo que deveria inscrever na fórmula do Instituto aquelas palavras do
Evangelho: ‘Ide e pregai a toda criatura que está próximo o reino dos céus' (Mt
10,7; 28,19). E que sobre essas palavras continuasse a forma de vida que ele
ditava em seu nome. Os exercícios diários e espirituais eram os mesmos
indicados nas Regras já escritas (1725, para o mosteiro feminino de Scala),
assim como o modo de vestir igual em tudo, como estava prescrito nas
mencionadas Regras.
Mas
que todos os congregados devessem viver em pobreza apostólica, como aquele seu
servo amado cuja festa se celebrava, que o imitara tão de perto. Que todos os
seus bens temporais fossem depositados aos pés do superior; que se fizesse um
fundo comum que se chamasse fundos dos pobres para as missões, para dar esmolas
a viúvas e órfãos, segundo a necessidade e a decisão do superior; mas se, por
esmola, lhes fossem dados capitais ou rendas, poderiam ser recebidos e postos
nesse fundo dos pobres. E que o superior, como de coisa não própria, mas
alheia, pudesse tirar desse fundo o necessário para cobrir as necessidades dos
irmãos, como pobres. Nas viagens não estivessem muito longe de suas moradias,
que andassem dois a dois, pregando a penitência.
Mas,
aqueles que fossem chamados à vida contemplativa ou eremítica, não fossem
impedidos, porque essas almas, que se dedicam à oração na solidão, ajudam muito
na conversão das almas aqueles que estão destinados à pregação.
Sejam
pelo menos treze em cada casa e não dependa deles ir para as missões, mas só
quando mandados e escolhidos pelo Superior.
Este
foi o primeiro esboço do conteúdo que a referida religiosa recebeu do Senhor. E
a referida escreveu uma folha onde anotou todas essas coisas que recebera. E
junto com as Regras das monjas se formaram as Regras da Congregação dos irmãos
homens" (Crostarosa, Autobiografia, manuscrito nos Arquivos da Congregação
do Santíssimo. Redentor; p. 94).
Impressiona
logo a marca evangelicamente apostólica do esboço crostarosiano: o instituto é
missionário enquanto continua a missão dos apóstolos. Por isso, tem, nessa
mesma missão, como a encontramos anunciada no evangelho, sua lei de vida; toda
sua normativa não é outra senão a concretização-explicitação da "verdade
evangélica" da missão. Nisso irmã Maria Celeste permanece fiel ao modo como
concebeu e desenvolveu seu projeto de comunidade feminina, cuja normativa traz
o título: "Instituto e Regras do Santíssimo Salvador contidas nos Santos
Evangelhos".
E
o paralelismo não se limita à fundamentação evangélica, mas abarca tanto a
composição da comunidade quanto seus "exércitos diários e
espirituais"; isto é, tanto a estrutura da vida cotidiana como sua
espiritualidade, indivisivelmente conexas na visão crostarosiana da comunidade
religiosa. Com a diferença, porém, que para os homens tudo recebe uma acentuação
e um ritmo dinamicamente apostólico. A começar da pobreza, que é o dado mais
sublinhado na síntese da Autobiografia.
Paralelamente
à comunidade feminina, também a masculina não deve confundir unidade com
uniformidade; deve, pois, reconhecer assim o carisma eremítico ou contemplativo
de alguns de seus membros. Sem, porém, que isso signifique individualismo ou
esvaziamento da unidade comunitária apostólica: vai para as missões quem for
enviado pelo Superior. Missões que serão a continuação da missão de Cristo e
dos apóstolos, também na sua realização prática: dois a dois, pregando a
penitência, irradiando-a à partir da casa-comunidade.
O
esboço de irmã Maria Celeste chegou às mãos de Falcoia, de Afonso, dos outros
redentoristas da primeira hora: as posições de Tosquez ao longo das discussões
refletem com fidelidade a "folha" crostarosiana. Escreve Tannoia:
"O
doutor Tosquez, sendo o fim do Instituto a imitação de Jesus Cristo, dava
largas à fantasia, fixando-se em exterioridades: pretendia que a batina devia
ser de tom vermelho escuro e o manto de cor azul, porque, como dizia, assim se
acredita fosse a veste do Salvador... Querendo fazer a reforma à moda dos mais
rígidos mendicantes, chegava a outros extremos. Pretendia que cada um vendesse
tudo quanto tivesse de seu no mundo e colocasse o valor aos pés do
superior" (Tannoia, Vita I,90).
Fonte: CERESP
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