Hoje dia que a Igreja comemora a festa da Apresentação do Senhor e celebra o dia da Vida Consagrada queremos compartilhar com todos os leitores de nosso Blog um texto da série de Jean-Marie Ségalen, sobre nossa Fundadora.
Agora!...
Eu fico. Agora!...(R. p.
235)
Em sua notavel obra
"Afonso de Ligório, uma opção pelos abandonados", Th. Rey-Mermet
apresenta assim Maria Celeste:
"Manhã de primavera de
1718. A carruagem de José Crostarosa, advogado lotado em Nápoles, corre ao sol
pelas planícies de Nola. Na neblina azulada, que se dissipa entre as
árvores em flor, quatro senhoras se dirigem a Marigliano, distante 20 Km da
capital: a senhora Paula Battista Crostarosa, uma sua amiga e duas de suas
filhas : Úrsula, com trinta anos e Júlia, a futura irmã Maria Celeste, que tem
então por volta de vinte anos. Vão para uma visita à irmã Veridiana de Jesus,
priora do conservátorio carmelita de Marigliano(....)
No carmelo, a acolhida é a
mais calorosa possível. alegre, a conversa.
Lá pelo meio da conversa, a
priora teve a inspiração de dirigir a Júlia esta intrigante pergunta:
-E você, que espera para se
doar ao Senhor? Não gostaria de ficar hoje mesmo conosco neste mosteiro?
A Resposta veio instantânea,
flamejante:
-eu fico. Agora!... "
Agora!... Nessa resposta
está todo o temperamento de Maria Celeste: chama viva de amor e
generosa impetuosidade; liberdade de espírito e vontade férrea; firmeza de
caráter e rapidez de decisão; paixão pelo Cristo e dom total, alegre, sem
medida.
Ela fica. E inflamado debate
se desenrola então entre ela e a mãe. Malgrado as objeções desta, que alega que
seu pai não está a par da decisão, Maria Celeste retruca dizendo que se seu pai
recusa, elas voltarão para casa, mas ela está convencida de que ele dará sua
aprovação e pagará o dote requerido pelo mosteiro. É o que de fato acontece.
Maria Celeste nasceu no
coração de Nápoles, em 31 de outubro de 1696, trinta e quatro dias depois de
Afonso de Ligório e no mesmo bairro. Era o mês das rosas. Seu nome de família-
"Crosta-rosa": Rosa de fogo- lembrava que ela veio ao mundo envolta
pelos aromas do outono, que fazem o poeta exclamar: "Recende a ouro, açafrão
e cobre..."
Ela é a décima filha da
família. Raio de sol por sua vivacidade e bom humor, é querida de todos . E, no
entanto, recolhida: por volta dos cinco ou seis anos, ela inicia a experiência de uma vida mística precoce e extraordinária. Ao redor dos onze anos, começa a
comungar. Pelos quinze, seu confessor a autoriza a comungar todos os dias.
Autorização inusitada numa época em que se comungava raramente. A eucaristia se
torna desde então o tempo forte de sua oração diária e o centro de sua vida espiritual.
Aos dezessete anos, com a aprovação de seu confessor, consagra-se a Deus
fazendo o voto de castidade.
Ela está nessa época no
carmelo de Marigliano. Mas não aceita uma vida religiosa pela metade. Tendo
constatado certo relaxamento, reage pronta e vigorosamente junto à superiora:
Se a senhora não tomar
providências contra esse relaxamento, jamais farei profissão neste convento...(R, p. 236).
A Priora a atende, e, a 21
de novembro de 1719, na festa da Apresentação de Maria no templo, Maria Celeste
faz a profissão, toda feliz por ser “aceita como filha por Maria”(A, cap. IX).
Seis meses depois de sua
profissão religiosa, Maria Celeste é nomeada mestra de noviças. Esse cargo
inflama seu zelo. Falando de si mesma, escreverá mais tarde:
Sobrevém-lhe (a Maria
Celeste) grande fome de ajudar o próximo a amar com fervor a Deus (R, p. 236).
Mas
logo o carmelo é fechado por ordem do bispo e para escapar aos desmandos da
proprietária das terras. Foi preciso então procurar uma solução para permanecer
fiel a sua consagração ao Senhor. É quando ela entra para as Visitandinas de
Scala, a conselho do padre Falcoia. Nesse novo mosteiro, Deus irá revelar-lhe
um tipo de vida religiosa que ele pretende propor, por meio dela, a homens e
mulheres de seu tempo e de séculos futuros. Essa revelação se dará durante a
ação de graças, depois da comunhão, um tempo forte, todos os dias, de sua
espiritualidade.
Em
1718, ao ser perguntada pela Priora do carmelo de Marigliano, Maria Celeste
havia respondido: “Sim, agora!” Hoje, ela não somente aceita continuar a
responder “sim” ao Senhor, mas se empenha
em um “sim” que será longo, difícil e doloroso como a paixão de Jesus,
mas que lhe trará a felicidade e a paz de páscoa. Ela se empenha em fazer
apelos aos homens e mulheres de seu tempo e de tempos vindouros para viverem o
novo tipo de vida religiosa que o Senhor lhe revela na hora da eucaristia;
apelo a fazer ver o Cristo em seu mistério pascal por meio de uma vida
religiosa pessoal e comunitária; apelo a continuar dessa forma a a missão de
Jesus Salvador no mundo todo e ao longo dos séculos.
E
nós, hoje?
Os
primeiros momentos da oração de Maria Celeste destinavam-se a escutar Deus.
Será que nós empregamos tempo em escutar Deus?
Além
disso, quando sentimos um chamado do Senhor, respondemos “sim”, prontamente,
como Pedro ao abandonar suas redes e seu barco de pesca? “sim”, como Mateus
deixando seu balcão de cobrador de impostos? “Sim, agora”, como Maria Celeste
renunciando o conforto do palácio de seus pais?
Compreendemos
que Deus não exige êxito apostólico imediato, agora, mas fidelidade a seu amor, seja lá quanto isso custe?
Mais:
nosso “sim” é não apenas generoso, ardente, paciente, fiel, mas também um “sim”
alegre, com cores de páscoa?
Por
fim, compreendemos que nosso “sim” ao Senhor não tem como meta primeira fazer-nos
campeões em virtudes, mas nos dar, “uma grande fome de ajudar o próximo”, de
partilhar nossa fé, nossa bondade, o amor que o Senhor nos dá, amor que
descobrimos por meio de sua Palavra, seus sacramentos, principalmente a
eucaristia?
Oremos
com Maria Celeste
No
dia de sua profissão religiosa, Maria Celeste confirmou seu “Sim, agora!” ao
Senhor, cantando este canto que compusera certa ocasião:
Eis
a hora tão esperada
Em
que Deus me desposou.
Plenamente
consolada,
Nele,
que é meu amor,
Repousarei.
Sim,
estou muito contente,
Saciou-se
meu desejo;
Gozarei
o meu Esposo
Por
toda a eternidade.
Aqui
estarei desejando
Usufruir de meu amante,
Servi-lo,
a ele satisfazer
E
possuí-lo eternamente.
Irei,
depois
Meu
Bem-amado,
Ver-te
lá em cima, no céu;
Lá,
para sempre possuirei
Esse
Esposo que me amou (L, cap. IX)
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