Nesse
estado, outra coisa não se faz senão amar com aquele amor com o qual o Pai ama
o Verbo no Espírito Santo, e com o qual o verbo ama seu divino Pai em sua infinita
felicidade (L, Degrau Décimo).
Para Maria Celeste, Deus é fogo. Mas
fogo semelhante à sarça ardente vista por Moisés, fogo que queima eternamente
sem se consumir. (cf. Êx 3,2)Assim, a Trindade arde no fogo do amor, fogo de
bondade e de alegria, que é eterno e fonte de bem para todos os que crêem nesse
Deus-amor abrasado do desejo de se unir para sempre a cada uma e cada um de
nós:
Ah!
Meu Senhor, que língua mortal pode explicar o bem que realiza numa alma cristã
o estado de verdadeira união com Deus neste divino Sacramento do altar. pelo
qual obtém a transformação em Deus e recebe esse puro sopro divino que existe
entre o Pai e o Verbo, seu Filho, com o Espírito Santo...Nutrindo-se da carne
do homem-Deus, a alma-esposa vem a participar, mediante a união hipostática que
une Jesus ao Verbo, da admirável união com o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
que goza a alma santíssima de Jesus, do qual todos somos membros. União real
esta, que se apóia nas palavras do próprio Jesus: "Quem come de minha carne
vive por mim!(Jo 6,57)(Vm, n. 23, p. 5, Jardin intérieur, 4 juin).
Quem come de
minha carne vive por mim!... Maria Celeste não cessa de aprofundar
essa palavra de Jesus. Palavra extraordinária. Ela lhe queima o coração. E,
maravilhada, descobre na hora da comunhão os arroubos de amor e de alegria que
unem as três Pessoas da Bem-aventurada Trindade, entre elas, e que a unem a
elas por meio de Jesus:
Quando
te contemplo, meu Jesus, em ti vejo brilhar todas as belezas e todos os divinos
atributos do Ser substancial, a Santíssima Trindade. Ali encontro a felicidade
eterna que torna o meu Deus bem-aventurado em si mesmo; ali encontro o amor com
o qual amas todas as criaturas em infinito arrebatamento; ali encontro todos os
corações amantes que existiram, existem e que existirão; ali encontro todos os
bem-aventurados do paraíso e todos os corações que em ti repousam em uma vida
de amor que os cumula de felicidade. Ali encontro toda a criação do céu e da
terra com a multidão das espécies criadas; ali encontro a santidade dos
santos...tudo isso o Pai depositou em ti, meu Amor, para que sejas de tudo o
único distribuidor. Em tua Majestade, encontro preservados todos os seres, em perfeita
ordem. Todos esses bens estão depositados na Arca de tua santa humanidade e
nela transparecem, como por um cristal puríssimo, todos os tesouros e belezas
com os quais, por uma graça superabundante, essa puríssima humanidade foi
enriquecida pelo Pai. Ela não tem nódoa nem mancha, e eu a comparo a um límpido
cristal...Meu coração está arrebatado de amor por ela e não pode se recusar a
amar esse Sol na Arca e essa Arca que envolve o Sol (L, Solilóquio Diálogo)
Nada de sábias considerações sobre o
mistério da Trindade. Maria Celeste delicia-se com o amor dos três. Para ela, o
Cristo está sempre no centro de suas atenções, mas tem presente ao mesmo tempo
sua humanidade e sua divindade, sem jamais as separar. A humanidade do Cristo é
“a porta aberta para entrar em Deus”. Disso fazia inesquecível experiência na
hora da comunhão:
As
três pessoas divinas mostraram-se a mim em meu espírito. Deus Pai me recebia
como sua filha para sempre e me dava uma veste muito preciosa, que me recobria
toda inteira. Essa veste era sua divina vontade, com a qual ele quer que eu
fique sempre revestida, como verdadeira filha sua.
Depois
o Verbo, o Deus de Amor, com doces e amorosas palavras, declarou-me sua esposa
para sempre e me entregou uma belíssima aliança, como também uma pequena cruz
de ouro, toda incrustada de pedras preciosas e de diamantes, muito adornada e muito
bela, mais que se consiga dizer...Essa aliança significava a fidelidade que, em
todas as minhas ações, até a morte eu lhe devo.
A
cruz tinha três grandes diamantes e era de ouro tão brilhante que espargia
ofuscantes raios de luz. Algumas pedras de rubi também espargiam raios e
faiscavam como fogo. Era o Espírito Santo que me dava esses adereços e que
realizava tudo isso (F-M, n. 6, entretiens IX)
Ao longo de toda a vida, Maria Celeste
viveu uma progressiva interiorização na Bem-aventurada Trindade, porque o Deus
que ela ama apaixonadamente não é um vago “Bom Deus” solitário, o “Celibatário
dos mundos”, mas um Deus “comunhão de amor” entre o Pai, o Filho e o Espírito
Santo.
Ela não so admira essa comunhão de amor,
mas a compartilha. E isso se realiza sobretudo na hora da comunhão, momento em
que, um dia, ouve o Pai lhe dizer: “Eu criei você de minha substância, por um
amor de eleição”. Eis como ela se exprime:
“Estas
palavras, ó divino Pai, tu me disseste hoje, após a santa comunhão. Foi quando
vi minha vida no teu Verbo, que é tua, e minha substância eterna de felicidade
e amor. E acrescentaste esta outra palavra substancial: ” Eu sou teu céu! ””
(Es, huitième jour)
E nós hoje?
Será que a Bem-aventurada Trindade é
para nós um problema intelectual, objeto de especulação, ou o maravilhoso
encontro, especialmente na hora da eucaristia, com o Pai e o Filho, no Espírito
Santo, no seio de sua comunhão de amor?
Estamos atentos em nos deixar conduzir
pelo Cristo a esse encontro, conscientes de que ele está presente, não ao nosso
lado, mas dentro de nós?
Estamos igualmente conscientes de que
nos oferece partilhar com ele a verdadeira bondade, a bondade de Deus, bondade
que jamais se apaga?
Estamos prontos a nos enveredar pelo
caminho de amor traçado por Jesus: o caminho de páscoa que, pela morte na cruz,
nos faz passar à alegria e à glória na vida eterna, em comunhão com Deus Pai,
pelo Cristo, no Espírito Santo?
Oremos com
Maria Celeste
Ó
meu amor,
eu me perco nesse imenso oceano de teu
amor
infinito.
Ó
pai de sinceridade e de verdade,
Supersubstancial
e divino,
Por
teu poder tu me transformas em Deus vivo.
E
por tua pureza transformas minha carne maculada
Na
pureza de tua carne imaculada.
Não
somente a purificas do pecado,
Mas
a nutres com tua vida de pureza.
De
todos os grãos dispersos,
Que
são as almas fiéis,
Tu
fazes um só Pão
Assado
ao fogo de tua divina caridade,
Na
tua humanidade...
Em
união de amor,
Eu
vivo a vida de meu Deus
Por
ti, que és a vida eterna
(F-M, n. 76, Exercice d’amour pour chaque jour)
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