segunda-feira, 2 de abril de 2018

O nome de Jesus...


Eu me sentia com o coração tomado por uma ferida divina. Sobretudo quando ouvia dentro de mim e me sentia envolta por um recolhimento interior que me fazia fugir de qualquer conversa... E tu, meu amor, amante Verbo, deliciosamente me nutrias com poucas e breves palavras de amor, fazendo-me sentir tua presença em meu coração, do qual fizeste tua morada (L, cap. X)



O nome de Jesus toca por inteiro o coração de Maria Celeste. Compreende-se melhor isso quando se recorda a etimologia dessa palavra: “Jesus” vem da palavra hebraica “Yeshouah”, que significa: “Javé salva”, ou simplificando: “Salvador”. Assim é que, para traduzir essa palavra, pode-se escolher entre dois termos: “Salvador” ou “Jesus”. “Jesus” é a tradução sonora de “Yeshouah”, enquanto “Salvador” é seu significado. Descobre-se a afeição de Maria Celeste por essa palavra, quando se olha para o primeiro nome dado por ela a seu Instituto: Ordem do Santíssimo Salvador e Congregação do Santíssimo Salvador.
“Salvador”, palavra cheia de esperança. Foi o nome escolhido pelo Pai para seu Filho, o Verbo feito carne no seio da Virgem Maria. O anjo enviado por Deus revela a José: “Não temas receber Maria, tua esposa: o menino gerado vem do Espírito Santo; ela dará ao mundo um filho, a quem darás o nome de Jesus”(Mt 1, 20-21).
Eis porque, aos 20 de janeiro de 1732, na festa do Nome de Jesus, Maria Celeste, na hora da comunhão, deixa explodir sua alegria:

Neste dia em que a Igreja celebra teu santo e adorável nome, concedeste-me, ó meu Jesus, tão grande efusão de amor que me parecia estar minha alma inteiramente consumida por esse nome tão belo, tão doce, tão caro, tão agradável, tão grande, tão amável, tão admirável, tão divino...(L, Solilóquio Diálogo).

No magnificat, a Virgem Maria canta, não em latim nem em grego, mas na língua irmã do hebraico, o aramaico: “minha alma engradece o Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu ‘Yeshouah’, isto é, meu ‘salvador’, meu ‘Jesus’”. Pode-se, pois, traduzir: “Exulta meu espírito em Deus, meu Jesus”. E então se compreende a emoção de Maria Celeste e de muitos místicos, quando pronunciam ou ouvem esse nome Jesus. Para todos eles, esse nome não evoca apenas uma ideia. Menos ainda uma imagem, mas uma pessoa viva, presente, seu melhor amigo, o Amigo divino, o próprio Jesus, o Ressuscitado que leva as marcas dos cravos e que se dirige a cada um de nós como a Maria Madalena na manhã de Páscoa:

“Acontece muitas vezes a uma alma, ocupada em afazeres materiais, ou mesmo lendo ou rezando, ouvir por acaso pronunciar o nome de Jesus. Ela se sente, de repente, como que transpassada por um dardo amoroso tão forte que lhe deixa suspensa por um tempo a respiração, de forma que não é possível descobrir o que é dor e o que é amor, ao mesmo tempo. Cehga ao mais profundo das entranhas, num movimento instantâneo, e inflama tão vivamente em todo o ser o fogo da caridade, a ponto de parecer que tudo é dor e amor dulcíssimo. A alma então recolhe e se concentra inteira em Deus, e permanece numa oração a que se pode chamar de imersão em Deus” (L, Degrau Oitavo)

Dessa maneira, o nome de Jesus leva Maria Celeste não só ao encontro de Jesus, mas ao encontro do Pai de Jesus, na luz do Espírito Santo.

E nós, hoje?

Na escola de Maria Celeste, compreendemos enfim que para orar é preciso ser dois: aquele que vê e aquele que se deixa ver, aquele que ouve e aquele que é ouvido, aquele que ama e aquele que é amado?
Como pronunciamos o nome de Jesus? É uma formula maquinal, usada por hábito? Ou o nome de um amigo que está ao nosso lado e que, ao preço da própria vida, tudo faz para nos salvar, perdoando-nos e nos chamando a cooperar com ele na salvação do mundo? Nome que nos transforma e nos convida, agora, a partilhar a ceia da amizade na eucaristia, à espera do festim do Reino?
Procuramos rezar, com Maria, este verso do Magnificat: “Exulta meu espírito em Deus, meu Jesus”?

Oremos com Maria Celeste

Ó nome santíssimo de meu Jesus que eu adoro...
Nome tão belo, tão doce, tão caro,
Tão agradável, tão grande, tão rico, tão amável,
Tão admirável, tão divino!
Deixa-me, pois, agora exprimir e exalar
O amor de meu coração para contigo,
Com toda liberdade e sem reserva,
Pois eu falo contigo,
A ti que és todo o meu amor,
Minha vida, meu coração e minha própria alma.
Dize-me agora, meu Bem-amado,
Porque fazes assim derreter meu coração?
Meu coração está tomado de fogo.
Só de ouvir pronunciar teu nime,
Dir-se-ia que ele está mil vezes traspassado
E ferido,
Como por uma flecha,
Por esse nome tão belo! (F-M, n. 26, Entretiens IX)


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