Eu me sentia
com o coração tomado por uma ferida divina. Sobretudo quando ouvia dentro de
mim e me sentia envolta por um recolhimento interior que me fazia fugir de
qualquer conversa... E tu, meu amor, amante Verbo, deliciosamente me nutrias
com poucas e breves palavras de amor, fazendo-me sentir tua presença em meu
coração, do qual fizeste tua morada (L, cap. X)
O
nome de Jesus toca por inteiro o coração de Maria Celeste. Compreende-se melhor
isso quando se recorda a etimologia dessa palavra: “Jesus” vem da palavra
hebraica “Yeshouah”, que significa: “Javé salva”, ou simplificando: “Salvador”.
Assim é que, para traduzir essa palavra, pode-se escolher entre dois termos:
“Salvador” ou “Jesus”. “Jesus” é a tradução sonora de “Yeshouah”, enquanto
“Salvador” é seu significado. Descobre-se a afeição de Maria Celeste por essa
palavra, quando se olha para o primeiro nome dado por ela a seu Instituto:
Ordem do Santíssimo Salvador e Congregação do Santíssimo Salvador.
“Salvador”,
palavra cheia de esperança. Foi o nome escolhido pelo Pai para seu Filho, o
Verbo feito carne no seio da Virgem Maria. O anjo enviado por Deus revela a
José: “Não temas receber Maria, tua esposa: o menino gerado vem do Espírito
Santo; ela dará ao mundo um filho, a quem darás o nome de Jesus”(Mt 1, 20-21).
Eis
porque, aos 20 de janeiro de 1732, na festa do Nome de Jesus, Maria Celeste, na
hora da comunhão, deixa explodir sua alegria:
Neste dia em
que a Igreja celebra teu santo e adorável nome, concedeste-me, ó meu Jesus, tão
grande efusão de amor que me parecia estar minha alma inteiramente consumida
por esse nome tão belo, tão doce, tão caro, tão agradável, tão grande, tão
amável, tão admirável, tão divino...(L, Solilóquio Diálogo).
No
magnificat, a Virgem Maria canta, não em latim nem em grego, mas na língua irmã
do hebraico, o aramaico: “minha alma engradece o Senhor, exulta meu espírito em
Deus, meu ‘Yeshouah’, isto é, meu ‘salvador’, meu ‘Jesus’”. Pode-se, pois,
traduzir: “Exulta meu espírito em Deus, meu Jesus”. E então se compreende a
emoção de Maria Celeste e de muitos místicos, quando pronunciam ou ouvem esse
nome Jesus. Para todos eles, esse nome não evoca apenas uma ideia. Menos ainda
uma imagem, mas uma pessoa viva, presente, seu melhor amigo, o Amigo divino, o
próprio Jesus, o Ressuscitado que leva as marcas dos cravos e que se dirige a
cada um de nós como a Maria Madalena na manhã de Páscoa:
“Acontece
muitas vezes a uma alma, ocupada em afazeres materiais, ou mesmo lendo ou
rezando, ouvir por acaso pronunciar o nome de Jesus. Ela se sente, de repente, como
que transpassada por um dardo amoroso tão forte que lhe deixa suspensa por um
tempo a respiração, de forma que não é possível descobrir o que é dor e o que é
amor, ao mesmo tempo. Cehga ao mais profundo das entranhas, num movimento
instantâneo, e inflama tão vivamente em todo o ser o fogo da caridade, a ponto
de parecer que tudo é dor e amor dulcíssimo. A alma então recolhe e se
concentra inteira em Deus, e permanece numa oração a que se pode chamar de
imersão em Deus” (L, Degrau Oitavo)
Dessa
maneira, o nome de Jesus leva Maria Celeste não só ao encontro de Jesus, mas ao
encontro do Pai de Jesus, na luz do Espírito Santo.
E nós, hoje?
Na
escola de Maria Celeste, compreendemos enfim que para orar é preciso ser dois:
aquele que vê e aquele que se deixa ver, aquele que ouve e aquele que é ouvido,
aquele que ama e aquele que é amado?
Como
pronunciamos o nome de Jesus? É uma formula maquinal, usada por hábito? Ou o
nome de um amigo que está ao nosso lado e que, ao preço da própria vida, tudo
faz para nos salvar, perdoando-nos e nos chamando a cooperar com ele na
salvação do mundo? Nome que nos transforma e nos convida, agora, a partilhar a
ceia da amizade na eucaristia, à espera do festim do Reino?
Procuramos
rezar, com Maria, este verso do Magnificat: “Exulta meu espírito em Deus, meu
Jesus”?
Oremos com Maria Celeste
Ó nome
santíssimo de meu Jesus que eu adoro...
Nome tão
belo, tão doce, tão caro,
Tão
agradável, tão grande, tão rico, tão amável,
Tão
admirável, tão divino!
Deixa-me,
pois, agora exprimir e exalar
O amor de
meu coração para contigo,
Com toda
liberdade e sem reserva,
Pois eu falo
contigo,
A ti que és
todo o meu amor,
Minha vida,
meu coração e minha própria alma.
Dize-me
agora, meu Bem-amado,
Porque fazes
assim derreter meu coração?
Meu coração
está tomado de fogo.
Só de ouvir
pronunciar teu nime,
Dir-se-ia
que ele está mil vezes traspassado
E ferido,
Como por uma
flecha,
Por esse
nome tão belo! (F-M, n. 26, Entretiens IX)
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