Certa manhã,
após a comunhão.... com minha alma toda absorta em silêncio, o Senhor me disse:
“Desejo que você seja a mãe de uma multidão de almas, que quero salvar por seu
intermédio...”(L, cap. XIV)
Para
Maria Celeste, a eucaristia não é só o sacramento pelo qual Jesus, como no
Lava-pés, lhe oferece o perdão de seus pecados: “Eu lavarei e purificarei você de todas as suas faltas”. É,
sobretudo, o sacramento dos esponsais com o Cristo, de sua união à paixão e
ressurreição do Salvador, como também o sacramento do Pentecostes, isto é, da
fecundidade apostólica, da maternidade espiritual. “Quero que você seja a mãe
de uma multidão. ” Essas palavras de Jesus após a comunhão marcaram-na por toda
sua vida. Um século depois, Teresa do Menino Jesus expressará semelhante
convicção na sua autobiografia (história de uma alma): “ser tua esposa, ó
Jesus... ser, pela minha união contigo, a mãe das almas”(oeuvres completes,
Cerf, 1922, p. 224).
Em
seu diálogo com Maria Celeste, Cristo assegura-lhe que ela colaborará nessa
obra do Salvador, que será um sucesso: “uma multidão! ” Ela se sente animada,
mas sabe muito bem que será doloroso esse parto. Doloroso, mas fecundo, pois
não será apenas o resultado de seus esforços, mas também o fruto do trabalho
apostólico de sua comunidade, da Igreja, e sobretudo do próprio Senhor, que
está presente nela e com ela trabalha.
Jesus,
uma manhã, convida-a a se deixar abrasar pelo fogo do amor que o consome por
todas as almas que ele quer salvar:
“Esta manhã,
desejei você de maneira especial em meu coração. Esperei-a com impaciência,
para que, em mim, você espose todas as almas, aquelas que fazem parte da Igreja
e aquelas que ainda não estão no meu rebanho. Quero que tenha por elas o mesmo
amor pelo qual eu as amo apaixonadamente. Quando estava no mundo, eu pensava
mais nelas que em mim mesmo. Assim, não pense mais em você, mas na salvação
dessas almas que eu tanto amo” (L, Segundo Diálogo)
Evocando
a imagem do golfinho, Jesus insiste nesse ponto:
“Você é para
mim como o golfinho, esse amigo do pescador que o acompanha sempre e atrai
outros peixes para suas redes. Também você, amiga dileta, esteja sempre comigo
com amorosa simpatia e conduza as almas para as redes da minha graça” (L,
Segundo Diálogo).
Maria
Celeste não era senão um com seu Senhor. Sua comunhão não se separa de sua
missão. E sua missão pessoal é a fundação de um novo instituto religioso. Essa
fundação aconteceu em Scala, a 13 de maio de 1731, num dia de Pentecostes.
Depois do fracasso de Scala, é numa segunda-feira de Pentecostes, em 25 de maio
de 1733, que começa uma nova etapa dessa fundação; e mais uma vez no dia de
Pentecostes só em 1738, em Foggia, Maria Celeste conhecerá a felicidade de uma
fundação definitiva.
O
lema escolhido, desde a origem, para os redentoristas e as redentoristas:
“Copiosa apud eum redemptio- Com ele (Jesus) é abundante a redenção”, enaltece
o arroubo missionário e a fé no futuro. Dessa forma, numa época em que se
pregava frequentemente “o pequeno número dos eleitos”, Maria Celeste e Afonso
estavam convencidos de que a salvação trazida por Jesus não estava fadada a um
fracasso, mas a um sucesso extraordinário. Inimaginável.
E nós, hoje?
Quando
nós rezamos, e sobretudo quando participamos da eucaristia, somos conscientes
de que nossa oração é a principal fonte de nosso apostolado? É por isso que é
preciso “pedir ao Senhor da messe”(cf. Mt 9, 30; Lc 10, 2) para que haja
operários e operárias para a colheita.
Temos
perfeita compreensão de que, se somos cristãos, não é para buscar a nossa
salvação, mas para primeiro salvar os homens e mulheres de nosso tempo, na
comunidade da Igreja, isso é, com Jesus Salvador?
Quando
compreenderemos que é o Senhor o principal obreiro de nosso apostolado? E que
nós, nós não somos senão a terra que recebe a semente, mas uma terra de
acolhimento, indispensável?
A
nós compete, pois, aceitar servir, cooperar generosamente, alegremente, como
Maria Celeste, que foi a “a mãe de uma
multidão de almas”, para seu tempo e para o futuro.
𝓞𝓻𝓮𝓶𝓸𝓼 𝓬𝓸𝓶 𝓜𝓪𝓻𝓲𝓪 𝓒𝓮𝓵𝓮𝓼𝓽𝓮
Ò divino
Pai...
Tua palavra,
Como uma
flecha de fogo,
Transpassa
minha alma
Para fazê-la
desfalecer todos os dias de minha vida
Em teu
divino amor!
Tu me dizes
que me queres como ardente
Tocha
A brilhar
sempre diante de ti
Para
iluminar muitas almas .
Como, porém,
eu poderia,
Sendo que
para mim mesma não sou senão
Trevas?
Serei tocha
e até o sol,
Se
permaneceres sempre unido a meu coração.
Eu te
suplico,
Por tua
divina misericórdia,
Que assim
seja (ES, Huitième jour)
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