Carta de Maria Celeste endereçada a
Afonso, em abril de 1731:
Meu pai,
pensavas que estarias isento de participar de nossas dificuldades? Todos os que
nos amam devem também participar de nossos sofrimentos... Os corações estão
todos nas mãos de meu Deus. Que posso temer? Ele nada me negou ainda do que eu
tenha desejado com o puro fim de sua honra e de sua glória. Ao saber dessas
notícias (proibições feitas a Afonso) *, busquei a meu Esposo na oração,
queixando-me a ele. Ele, consolando-me, me disse: “Não tenha medo. Ninguém
poderá tirar de você o amigo que lhe deu” (S, p. 149)
O amigo que lhe dei.... É Afonso de Ligório. Maria Celeste
o havia encontrado pela primeira vez no ano precedente, à época das visões e
revelações sobre a fundação do novo Instituto. Era o tempo em que caíam sobre
ela, violentamente, críticas e zombarias. Afonso é, então, e será sempre, seu
apoio. Maria Celeste sabe disso e o declara em carta de 4 de outubro de 1730:
“Meu pai, eu
sempre te encontro como companheiro em minhas pobres e frias orações e, unida a
teu espírito, faço minhas comunhões e me serves de companhia. Mas meu prazer é
maior ao ver que toda a nossa comunidade te lembra sempre com alegria. Que o
Senhor abençoe para sempre nossa amizade, para sua glória e honra” (M, p. 21).
Maria
Celeste confidencia a Afonso outra revelação do Senhor, que lhe dizia respeito.
Ela a recebeu, como de costume, na hora da comunhão:
“Certa manhã,
após a comunhão, vi com grande clareza os dons e bens que o Senhor havia
concedido a tua alma: “Você receberá muitas graças minhas por meio dele, e ele,
por sua vez, muitas graças receberá de minha misericórdia por meio de você. O
sinal mais claro que dou a este meu servo, para que conheça que o amo, será que
todas as almas, que estiverem sob seus cuidados ou ouvirem suas pregações, eu
as cumularei de graças e com a salvação... Eu darei a ele os maiores dons de
meu amor, que conduzem ao único fim supremo da união comigo”” (R, pp. 253-254,
carta de fins de setembro ou princípios de outubro de 1731)
Em
suas cartas, Afonso não esconde a amizade por Maria Celeste. Ela é das raras
pessoas a quem trata com intimidade, como aliás, ela o faz também. Afonso a
chama: “Celeste...minha Celeste... minha querida Celeste... minha irmã muito
amada em Jesus Cristo e Maria...” Em resposta a uma carta em que Maria Celeste
lhe havia escrito: “Em que minha alma pode tanto te interessar? ”, ele escreve:
“Ah! Celeste, não me digas isso; é muita ingratidão, pois que a união de nossas
almas em Cristo Jesus está tão avançada.... Não sabes então que o interesse de
tua alma são os meus interesses? E isso, foi Deus quem fez, de forma alguma eu.
A mim não me é possível não desejar para ti a perfeição total, da mesma forma
que a desejo para mim. Tudo o que te escrevi, minha Celeste, eu o escrevi
porque te amo em Jesus Cristo”
Afonso
não era o único amigo de Maria Celeste. Bispos e padres oferecem-lhe sua
amizade. Mas sobretudo os missionários da Congregação que Afonso havia fundado
e da qual ela havia sido a inspiradora. Entre eles, distingue-se um irmão:
Geraldo Majela. Quando ele ia a Foggia- e ia frequentemente-, narra Tannoia,
seu biográfo, a primeira coisa que fazia era visitar madre Maria Celeste. Ela
ficava feliz por falar com Geraldo, e Geraldo era feliz por gozar da amizade de
Maria Celeste.
Geraldo
estabeleceu com ela e com as irmãs da comunidade dela laços tão fortes de união
a ponto de participar do desabrochar de numerosas vocações de monjas
redentoristas e ser de muitas vocações o grande animador durante sua tão breve
vida religiosa, que não durou nem seis anos.
Os
seres humanos costumam ter amizades seletivas: são os colegas do mesmo sexo, da
mesma idade, do mesmo bairro, da mesma profissão, dos mesmos estudos, com as
mesmas convicções religiosas ou políticas. Jesus, ao contrário, tinha amizades
sem fronteiras: as crianças, os doentes, os desequilibrados, os pagãos, os
estrangeiros, os pobres, as mulheres... todos eram seus amigos.
Entre
os santos houve muitas amizades célebres. Por exemplo: Escolástica e Bento;
Clara e Francisco de Assis; Joana de Chantal e Francisco de Sales; Luísa de Marillac
e Vicente de Paulo. Da mesma forma, Maria Celeste, Afonso e Geraldo. E os três
eram, incontestavelmente, amigos de Jesus eucarístico. A eucaristia, a visita
ao Santíssimo Sacramento marcaram sua vida cristã desde a infância. (Cf. Orar
15 dias com Santo Afonso e Orar 15 dias com São Geraldo, Aparecida, E.
Santuário)
Assim,
para os três, ao lado de seus numerosos amigos da terra, havia este grande
Amigo do céu, o Amigo por excelência, Jesus, com quem se entretinham todos os
dias, especialmente na hora da comunhão, e a quem Maria Celeste podia falar de
seu reconhecimento:
“Ó Rei de meu
coração, como é doce tua voz aos meus ouvidos. Este nome de amiga que me dás
faz-me morrer de doçura. Tenho a impressão de que teu coração e o meu não tem
senão uma mesma respiração e um mesmo amor. Sinto-me cumulada de teus bens, num
abandono total de todo o meu ser em ti” (NN, Huitème jour).
E nós, hoje?
Temos
nós amizades estreitas, limitadas, ou amizades abertas, sem fronteiras? Estamos
prontos, como o Senhor, a acolher em nosso coração aqueles e aquelas que
encontraremos no dia de hoje?
Trazemos
nossos amigos em nossos corações? Sem esquecer os outros, todos os outros?
Estamos
conscientes, como Maria Celeste, de que o Senhor escolheu ser nosso maior
amigo? Estamos felizes por essa incrível amizade do Senhor por nós?
Quando
rezamos, será que nos contentamos em recitar belas fórmulas ou temos o hábito
de falar com Deus “como um amigo fala com seu amigo”, como Moisés (cf. Êx 33,
11), como Maria Celeste e inumeráveis crentes ao longo da história?
Oremos com Maria Celeste
Meu
Bem-amado Senhor e Esposo,
Tu és meu
único e particular amigo,
Oh! Sinto
que não poderia viver
Nem uma
hora, nem mesmo um instante sem ti.
Parece-me
que meu espírito não se alegra
Senão quando
pensa em ti.
Cada dia,
cada hora que passa
Me aproxima
do momento
Em que terei
a alegria infinita e eterna
De ver teu
rosto!
(F-M, n.
138, Entretiens IX)
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